16:39Fedato, adeus

Do jornal Gazeta do Povo

 

Fedato, ídolo do Coritiba, morre aos 88 anos

O Estampilla Rubia conquistou sete títulos estaduais pelo clube. Ex-zagueiro foi vítima de problemas respiratórios

 

Aroldo Fedato, zagueiro do Coritiba entre os anos 40 e 50, morreu no início da tarde desta segunda-feira (9), em Curitiba, vítima de problemas respiratórios, aos 88 anos.

Considerado um dos maiores jogadores da história do clube e do futebol paranaense, o Estampilla Rubia chegou ao Alto da Glória, em 1943. Até encerrar a carreira, em 1958, conquistou sete títulos estaduais – 1946, 47, 51, 52, 54, 56 e 57. Detém os recordes de permanência e tempo como capitão no clube.

Marcou apenas dois gols pelo Coritiba. O primeiro no Atletiba de 7 de agosto de 1949, quando usou pela primeira vez a camisa número 2. O outro, contra o Água Verde, em 3 de junho de 1951.

Em 2009, jornalistas, ex-jogadores e coxas-brancas ilustres ouvidos pela Gazeta do Povo elegeram Fedato para a seleção do centenário do clube. Ele também recebeu três votos para a escolha do personagem mais importante da história alviverde – o ex-presidente Evangelino Costa Neves acabou indicado o coxa-branca do século. O Coritiba divulgou nota oficial lamentando a morte do ídolo.

O velório ocorrerá nesta terça-feira (10), no Estádio Couto Pereira, das 7h30 às 16 horas. O enterro será no Cemitério Municipal – o horário ainda não está definido.

Trajetória

Aroldo Fedatto nasceu em Ponta Grossa, no dia 16 de outubro de 1924. O sobrenome foi registrado com dois “t”, igual ao do seu pai, João. Um dos “t” acabou suprimido pela imprensa esportiva quando Fedato começou a jogar no Coritiba.

O responsável por levá-lo ao Alto da Glória foi Ailton Cavali. Funcionário do clube, ele viu Fedato em ação em 1939, nos torneios do bairro Alto da XV, onde morava. Quando chegou ao juvenil, Fedato era centroavante. Sua estatura (1,87 metro) e porte físico, porém, logo fizeram com que fosse transformado em zagueiro.

Em 1942, Fedato foi emprestado ao Bloco Morgenau. Passou seis meses no clube pelo qual fez sua primeira partida profissional. A estreia no Coritiba aconteceu em 14 de março de 1943, na vitória por 4 a 3 sobre o Comercial.

Rapidamente, Fedato tornou-se capitão e titular absoluto do Coritiba. Fora de campo, contador de profissão, era responsável por cuidar das finanças do clube. Em 1948, recebeu um telegrama da Confederação Brasileira de Desportos (CBD, atual CBF) comunicando que poderia ser convocado para defender o país na Copa Rio Branco, no Uruguai. A chance foi por água abaixo com uma má atuação em um amistoso contra o Vasco, em que o time paranaense perdeu por 7 a 2.

“Cheguei a receber um telegrama da confederação dizendo que seria convocado. Só que tive muito azar. Em 1948, joguei um amistoso contra o Vasco e perdemos de 7 a 2. A pior partida da minha vida. Para complicar, o técnico vascaíno era o Vicente Feola, que comandou o Brasil no Mundial”, contou Fedato, em 2005, em entrevista à Gazeta do Povo.

A experiência internacional mais marcante de Fedato acabou ocorrendo no mesmo ano. Emprestado ao Botafogo para uma excursão à Bolívia, impressionou a imprensa local e acabou apelidado Estampilla Rubia. Segundo o livroEternos Campeões, no Grupo Helênicos, “o termo estampilla costumava ser usado nos países hispano-americanos para designar os defensores que grudavam no atacante adversário, como um selo, e não permitiam que este jogasse. Com os cabelos claros, loiro para os padrões locais, o zagueiro paranaense marcou com tal perfeição o centroavante Caparelli, considerado o melhor atacante da Bolívia, que fez jus ao elogioso apelido”.

Fedato realizou mais um jogo por outro clube, o Ferroviário, em um amistoso contra o Fluminense, na Vila Capanema, em 23 de janeiro de 1947. Também defendeu a seleção paranaense entre 1944 e 1956. Em 1951, foi homenageado com o prêmio Belfort Duarte, entregue a jogadores com mais de 200 partidas oficiais que não sofreram nenhuma punição esportiva pelo período de dez anos.

Fedato despediu-se do futebol em 16 de junho de 1957, após a vitória por 2 a 1 sobre o Guarani de Ponta Grossa. A aposentadoria durou apenas dois meses, tempo necessário para 495 pessoas ligadas ao Coritiba aderirem a um abaixo-assinado pelo seu retorno: “O Coritiba ainda precisa do concurso de seu grande e querido capitão! Volte! E volte já!”, pediam os torcedores.

O apelo funcionou e Fedato voltou a tempo de ser campeão estadual em 1957. Sua derradeira partida foi a do título, na goleada por 4 a 1 sobre o Ferroviário, em 5 de janeiro de 1958. Ele ainda assumiu o comando do time interinamente, no mesmo ano, substituindo o efetivo Felix Magno, que viajou ao Uruguai.

Fora do futebol, Fedato dedicou-se à contabilidade. Também abriu uma rede de lojas de artigos esportivos, a Fedato Sports, que chegou a ter dez estabelecimentos espalhadas pelo Paraná e Santa Catarina, até fechar a última unidade, em 2003.

“Fui tão feliz no Coritiba. Ganhei sete campeonatos paranaenses e conquistei o meu maior orgulho, o prêmio Belfort Duarte. Este era dado apenas aos atletas disciplinados, que nunca tiveram uma advertência”, disse Fedato à Gazeta do Povo, em 2005.

No seu apartamento, com vista para o Estádio Couto Pereira, guardava álbuns com recortes de jornal, fotos e uniformes do tempo de jogador. Em 2006, suas histórias foram reunidas no livro Fedato – O Estampilla Rubia, escrito em parceria com o jornalista Paulo Krauss. “Tá tudo aí. É a prova da minha importância”, dizia.

 

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Uma ideia sobre “Fedato, adeus

  1. SB

    Conheci melhor Aroldo Fedato quando ainda estava na tv da Universidade Federal, apresentando e produzindo o programa “Persona”. Isso deve ter sido no início de 2007, se não me engano. A cena retratava o encontro do ídolo com um dos fãs mais chatos que ele deve ter tido.
    Quando cheguei no apartamento dele para a gravação, lembrei da minha época de criança, quando ele ainda era proprietário da maior loja de artigos esportivos de Curitiba – A Fedato Eportes- aliás, a única em Curitiba que vendia quase tudo de material esportivo. Depois surgiu a Az de Espadas, como concorrente. Mas continuei frequentando a Fedato Esportes, por razões óbvias.
    Arrumava alguma coisa para ir ao centro da cidade, mas o programa especial estava na Ébano Pereira. Ficava sondando a vitrine só para ver se ele estava ali pela frente da loja. As vezes dava sorte. Quando isso acontecia, entrava e arrumava uma desculpa para chegar perto de Fedato. Timidamente pedia um autografo e ia embora. Devo ter conseguido uns 10 autógrafos. Tive todos eles por um longo período. Eu nem imaginava, mas na época ele devia me identificar como o menino dos autógrafos. Sem dizer nada, apenas sorrindo, ele pegava um pedaço de papel e fazia um rabisco.
    A última vez que isso aconteceu, ele me viu entrando na loja e como já estava perto do balcão, puxou uma folha de papel e antes que chegasse perto e pedisse o autógrafo, ele esticou o braço e me entregou o papel já com o rabisco do seu nome. Fiquei com vergonha e nunca mais voltei. Por um bom tempo nem passei na frente da loja. Quando ficava com saudades, queria ver ele, ficava do outro lado da calçada, em frente das Americanas, na Ébano Pereira.
    Nunca o vi jogar. Passei a frequentar estádio anos depois da aposentadoria de Fedato. Nico e Bequinha já eram os substitutos. Precisamente Nico, o camisa 2 da zaga Coxa.
    Quando entrei na casa de Fedato, em 2007, para a entrevista da tv, pensei em contar esta história e me identificar como o menino dos autógrafos, mas já com alguns problemas de saúde, achei melhor poupá-lo deste exercício de buscar pela memória que para ele, imagino, seria difícil. Também ainda restava um pouco da vergonha que passei quando me deu o autógrafo, sem que eu pedisse. Vai que ele lembra de mim.
    Passei a entrevista inteira pensando naquilo e de todo aquele período. Tentando imaginar como seria o sentimento de um craque nos anos 40 e 50.
    Fizemos uma conversa de idas e vindas pelo futebol moderno e da época que jogou. Saí dali com a certeza que no mínimo vivemos dois períodos muito, mas muito distintos. O que na verdade não é novidade para ninguém. Mesmo não tendo vivido o futebol destes anos de 40 e 50, acho mais mágico, mais bonito, mais romântico que o de hoje. As imagens que alimento desta época, também são em preto e branco.

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