9:34Alerta e queda

Do jornal O Estado de São Paulo

 

PF PEGA EX-CHEFE DE FUNDO DA EDUCAÇÃO EM GRAMPO

Presidente do FNDE pediu demissão do cargo depois de ser flagrado alertando amigo, suspeito de desvio de R$ 6,6 milhões, sobre operação ‘Foi uma questão de solidariedade pessoal’, diz Freitas

 

O presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação(FNDE)– ligado ao Ministério da Educação (MEC) –, José Carlos Wanderley Dias de Freitas, pediu exoneração na segunda-feira, sob alegação de que precisa “tratar de assuntos particulares”. Freitas estava no cargo desde agosto de 2011.

Servidor de carreira do FNDE havia 22 anos, Freitas caiu no grampo da Operação Sinapse, da Polícia Federal, alertando o reitor do Instituto Federal do Paraná (IFPR),Irineu Mário Colombo, ex-deputado federal pelo PT, da existência de investigação sobre desvio de R$ 6,6 milhões em repasses supostamente ilícitos para duas Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip).

Homem de confiança do ex-ministro da Educação e prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e mantido no cargo por Aloizio Mercadante, atual chefe da pasta, ele era ordenador de despesas do FNDE, que autoriza celebração de convênios e liberação de recursos. Em depoimento à PF, no último dia 16, admitiu ter informado o reitor “em razão de certa solidariedade pessoal”. Dez dias depois, pediu demissão do cargo. Freitas foi interceptado às 9h44 de 16 de junho de 2012.

“Deixa eu te falar, é… tá tendo algum problema mais grave com relação àquela questão que foi iniciada uma auditoria da ONG lembra?”, disse a Colombo.“

Tá tendo uma questão complicada, viu. Então você tá todo…Dê uma olhada aí… e… e…assim, observe. Zero movimento, entendeu? Zero movimento.

Tá, tá, tá, tá… Chegou já no… no patamar já acima entendeu?”, prosseguiu Freitas.

Ao concluir o alerta ao então reitor do IFPR, Freitas sugeriu que pudessem estar sendo monitorados.

A investigação da PF teve início em março de 2012. Freitas foi grampeado três meses depois. Ele telefonou para Colombo de um orelhão na Alameda Franca, nos Jardins, zona sul de São Paulo. Ele estava na cidade para participar do Fórum da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação. A reportagem procurou Freitas por dois dias seguidos, mas ele não falou sobre o caso.

Orçamento.

Sob a responsabilidade do fundo estão as principais atividades do governo federal na Educação. O FNDE teve orçamento no ano passado de R$ 50,3 bilhões, valor que supera em 20% o orçamento da cidade de São Paulo, por exemplo.

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Em depoimento à Polícia Federal, José Carlos Wanderley Dias de Freitas confessou ter ligado  para o reitor afastado do Instituto Federal do Paraná (IFPR), Irineu Mário Colombo. Ele afirmou que não pretendia vazar a operação da PF. “Em um ato de puro impulso, liguei para Colombo com o intuito de alertá-lo sobre o fato de que a auditoria em curso no IFPR havia chegado a uma dimensão mais grave e estaria inclusive subindo para a órbita da Controladoria-Geral da União, em Brasília.” Wanderley disse que queria alertar Colombo “em razão de certa solidariedade pessoal”.

Em nota divulgada no dia da deflagração da Operação Sinapse, 8 de agosto, o IFPR informou que, quando Colombo tomou ciência de “indicativos de irregularidades”, pediu auditoria e exoneração da Diretoria de Educação a Distância. / F.M.

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