17:38Linchamento moral da mulher: o caso Tayná

por Roseli Isidoro*

 

Não é a primeira vez que isso acontece. Uma menina, 14 anos, estudante, está morta. Mas, depois de tantas reviravoltas e explorações do caso, ela é a única pessoa no banco dos réus. Sem poder se defender e contar o que aconteceu porque está morta. Não se sabe quem matou e por onde anda. Mas é a adolescente Tayná Adriane da Silva, que muita gente não consegue enxergar além da beleza física nas fotos divulgadas para compreender sua história, quem é colocada na posição de dever satisfações sobre seu assassinato brutal.

O caso de Tayná apresenta todos os elementos do feminicídio, tipo de homicídio que vitima mulheres pelo simples fato delas terem nascido mulheres. Que ódio tão grande foi esse e que violência tão bárbara provocou a morte da menina Tayná? Essas respostas parecem relegadas a um plano secundário em alguns noticiários. As fofocas, mexericos e especulações sobre sua sexualidade, supostos hábitos ou comportamentos caem mais no gosto da opinião pública do que a perseguição da verdade. E Tayná foi encontrada morta, no fundo de um poço, no meio do matagal. Praticamente culpada de ter sido assassinada.

Chegou ao nosso conhecimento que a dor da família pela perda da garota se agrava ainda mais pelo que amigos e lideranças feministas classificam como linchamento moral, típico de uma sociedade machista, preconceituosa e injusta com as mulheres. Assim como ficamos sabendo por movimentos de mulheres que fizeram contatos com a família e com professores da escola onde a menina estudava, que ela era vista como uma aluna dedicada, inteligente, dona de uma consciência comunitária e até por isso colaborava ativamente com o jornalzinho do colégio. Mas essa imagem pública pouca atenção desperta.

São nebulosos ainda os fatores que levaram as autoridades policiais a contarem versões confusas do caso e estarem envolvidas em suspeitas de torturas também brutais contra quatro homens, identificados no início como sendo os culpados pelo assassinato da garota. E agora toda a atenção se volta para os policiais e os rapazes supostamente torturados.

É preciso fazer algo para romper com essa cultura de culpar a mulher pela violência contra si mesma. É preciso fazer essa reflexão urgente para a mudança de atitude. Tayná está morta. Ponto! Não se sabe quem a matou, só que esta ou estas pessoas não estão presas e nem pagando pelo crime bárbaro de terem tirado a vida da menina. Ainda temos de nos deparar com alguns setores da sociedade que agem como naquela velha atitude machista de perguntar à mulher que denuncia a violência sofrida o que ela teria feito para “merecer” apanhar.

 

*Secretária da Mulher de Curitiba

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3 ideias sobre “Linchamento moral da mulher: o caso Tayná

  1. Mito

    Essa não perdeu a chance de se aproveitar da dor alheia. Que artiguinho medíocre e distorcido, tentando achar pelo em ovo. Isso sim é que agride à memória da vítima e a dor da família. Lamentável, mas típico de quem não sabe o que de onde veio nem pra onde vai.

  2. leandro

    Bem. A Secretária Roseli tem toda razão nas suas afirmações. Claro existindo as fofocas e os mexericos sobre qualquer que seja o comportamento e a vida da Tayná, representa no mínimo um preconceito descabido e criminoso, contra a mulher, contra o ser humano seja lá quem for. O foco principal do assunto e dos fatos foi a morte da menina os demais casos, mesmo que contundentes e indevidos são periféricos, mas causam repulsa da população por ter sido cometido por agentes públicos se verdade foi. Não tendo o mesmo peso, pois uma vida foi tirada, em ambos os casos há suspeitos. O que pesa e muito é a morte de Tayná, mas que houve e existe algo diferente neste caso existe, pelo menos é a impressão que passa a população, algo que teve início no comportamento policial dito e noticiado. Nos parece que a polícia na oportunidade não tomou suas cautelas para dar transparência das prisões e acompanhamento não só da mídia, mas também do Ministério Público e Defensoria Pública se não através de comunicado a OAB. Bom o fato é que parece não foi feito e agora lamentavelmente é tarde em ambos os fatos. Também outros fatos que não só relacionados a jovem Tayná demonstram a agressão a mulher e ao ser humano, que é o atendimento na saúde pública do Município, que está demonstrado no ocorrido na Unidade de Saúde 24 horas do Pinheirinho e pior ainda após o lamentável óbito de um paciente e as razões deverão ser apuradas e também alvo de comentários por parte da Secretária e do próprio Prefeito, foi a atitude do fechamento daquela unidade conforme noticiado, neste ato deixaram de ser atendidos dezenas de pacientes que lá estavam.
    Então cara Secretária a sua indignação é justa como deve ser igualmente manifestada pela omissão, comportamentos e qualquer adjetivo que se use na atenção dos necessitados de utilizarem unidades de saúde pelos funcionários e alguns médicos que lá deveriam prestar serviços no mínimo de boa educação e atenção a população, pois ninguém mora mal porque quer, ninguém fica doente porque quer e ninguém vai ao médico para bater papo.

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