7:07A esquerda raivosa e o grito das ruas

por Célio Heitor Guimarães

 

Há uma esquerda raivosa de plantão no Brasil. Raivosa, cega e burra. E, portanto, incapaz de sentir que o mundo mudou e continua mudando. Ainda tem o comandante Fidel como ícone, chama o pequeno Kim Jong Un de líder e acha que Luiz Inácio foi o maior presidente do Brasil de todos os tempos.

 

Minha modesta opinião aqui postada na semana passada (O povo caminha nas ruas, quarta 19) foi aplaudida pelo leitor Jeremias, o bom, que quase nunca concorda com o que escrevo, mas foi capaz de qualificar aquele escrito como “de longe, o melhor texto que li sobre as recentes manifestações”. Fiquei feliz.

 

No entanto, através do meu endereço eletrônico pessoal, recebi algumas críticas. De quem gosta de criticar, mas não quer se expor. Uma delas com qualificada raivosidade. E o pior: de pessoa da minha admiração, com história de luta por um Brasil melhor e mais justo. Capaz, todavia, de transtornar-se, perder o brilho e o recato, só por deduzir – com absoluta razão, diga-se de passagem – que a minha crítica alcançava Lula e o PT.

 

Fui acusado de – tal qual a grande imprensa e as principais emissoras de rádio e televisão – abraçar com entusiasmo campanhas a favor dos interesses da “direita reacionária” (Olha, como bem observou um bom amigo meu, fazia uns 15 anos que não se ouvia/lia essa expressão – coisa mais antiga!…), desqualificando e negando “os avanços conquistados pela sociedade” e desviando-lhes “o foco com palavras de ordem impregnadas de mentiras e de significado malicioso, marteladas dia e noite, contra um governo que, se não é o ideal, trouxe, sem dúvida nenhuma, grandes avanços sociais nestes últimos 49 anos, apesar dos esforços deletérios das oposições”. A reação desmedida foi arrematada com uma suposta surpresa: o reclamante afirma que não imaginava o tamanho do meu ódio a Lula e ao PT. Mais uma bobagem que não honra o passado do remetente.

 

Eu poderia ter-lhe respondido, por exemplo, que nestes últimos 49 anos os “esforços deletérios das oposições” foram, em grande parte, comandados por Lula e pelo PT, que combateram à exaustão o Plano Real de Itamar Franco se recusaram a aprová-lo no Congresso Nacional. Mas de que adiantaria diante de alguém com tapa-olhos, cego pela raiva e submissa a falsos executores de velhos ideais?

 

Também não sabia que o combate à corrupção, à malversação do dinheiro público e àqueles que fazem da administração pública um negócio fosse coisa da direita. E – pior – da direita reacionária.

 

Não odeio Lula nem o PT. Acho, até, que ódio é um sentimento muito forte, que ambos hoje sequer merecem. Tenho – isto sim –, como todo brasileiro com alguma consciência e alguma capacidade de discernimento, profunda decepção. E uma bruta raiva de mim mesmo por um dia haver acreditado que chegara a hora de Luiz Inácio e que ele e o seu PT seriam capazes de mudar Ba nação ou, pelo menos, lutar contra as desigualdades econômicas e sociais. Pura ilusão, como se viu. Outro dia, Lula – quando ainda falava, porque agora anda num silêncio expressivo – afirmou, certamente sem a menor sinceridade, que não tem o desejo de voltar à presidência. Não é verdade, mas bem que poderia ser. Afinal, na situação em que se encontra, ele não apenas continua governando o Brasil como se tornou, com extraordinária rentabilidade, o maior lobista deste país, com prática de influência internacional. Há melhor negócio? Ou mais safado?

 

Não, meu prezado censor, não tenho ódio de Lula ou do PT, embora esteja convicto de que, hoje, o Instituto Lula é mais pernicioso ao país que a Fiesp. Ódio quem parece ter é essa rapaziada que anda desfilando nas ruas do Brasil. E não só de Lula e do PT, mas de todos aqueles que já se assenhorearam do poder, em nome do povo, para desfrutar de vantagens pessoais ou defender interesses de grupelhos, chamem-se eles José Sarney, Jânio Quadros, Paulo Malluf, Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso, Antônio Carlos Magalhães, Jader Barbalho, Renan Calheiros, José Dirceu de Oliveira e Silva, Geraldo Alckmin ou Dilma Rousseff.

 

Não sei se é – como também diz aquele velho companheiro de guerra – porque a idade avança e a razão nos transforma em conservadores, mas nesta altura da vida, descrente dos políticos e dos partidos, parafraseando a notável Adélia Prado, pouco me importa ser governado por um professor da Sorbonne ou por um operário saído do torno mecânico. “Quero que me governe um homem [ou mulher] bom [boa] e justo[a], que cuide para que, chegando a noite, todo mundo vá dormir cansado com tanto trabalho que tinha para fazer e foi feito”.

 

E que ele [ela] cumpra o seu dever com dignidade e decência, e nenhum deslumbramento por ter, transitoriamente, a chave do poder.

 

PS – Uma coisa, porém, é certa: depois da moçada nas ruas, é bom Dilma, Lula, Serra, Mercadante, Aécio, Sérgio Cabral, Eduardo Paes, Gleisi Hoffmann, André Vargas, Beto Richa, PT, PSDB, PMDB e outros pes irem mudando os seus planos para 2014.

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4 ideias sobre “A esquerda raivosa e o grito das ruas

  1. jose

    Sem dúvida, mais um texto exemplar, que reflete o que ocorre com muita gente, basta discordar de “são lula do pt” que já vem aquela turma: reaça, direitaça, “contra o Brasil”, etc e tal…

    Só não sei se o que eles querem é fascismo, ditadura ou ambos…

  2. Célio Heitor Guimarães

    Carlota, bem se vê que você voltou faz tempo à Corte portuguesa, junto com D. João VI. Não tem a menor ideia de quem eu seja (ou fui). Direita/maçônica/jurídica ?! Tenha dó.

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