12:03Prosperidade, filha da democracia

por Sandro Vaia

Quem conhece os mistérios da alma humana? Quem é capaz de dizer por qual razão os entes políticos tratam as pessoas comuns como um bando de rematados idiotas?

A foto de Hugo Chávez todo coradinho ao lado de suas duas filhas lendo uma edição do Granma, obviamente plantada aí por um photoshop , nao difere em nada da foto do ditador Artur da Costa e Silva , de perfil, ao lado de sua mulher Yolanda, vendendo saúde depois de um derrame, ou da foto de Tancredo Neves como um ectoplasma, cercado por sua equipe médica alguns dias antes de morrer.

Querem nos fazer crer que os políticos são imortais? Uma hora ou outra eles acabam morrendo, como todo mundo, e quem tentou nos enganar sai de fininho como se nunca tivesse estado aí.
Pois aí está. Apesar de a multidisciplinar doutora Dilma ter-nos garantido, do alto de seus conhecimentos médicos, no dia 23 de fevereiro que “o quadro do presidente Chavez não é preocupante”, ele morreu porque imortal não era.

Não é decente nem digno festejar , como alguns fizeram nas redes sociais, a morte de um ser humano, por mais pecados políticos que se possam atribuir a ele. Também não é digno mentir às pessoas tentando esconder-lhes a verdade.

Não chega a ser indigno, mas é apenas patético, senão cômico, tentar atribuir o nascimento, a evolução e o desfecho da doença a fantasmagóricas intervenções externas de supostos inimigos, como se o vírus do câncer fosse uma arma química que um agente secreto pudesse carregar na mochila.

Chavez morreu, novas eleições serão realizadas na Venezuela dentro de 30 dias, e apesar de todas as incertezas o vice-presidente de um voto só, Nicolás Maduro, que conta com o apoio dos militares, deverá vencer sem muitos problemas.
Chavez estava no início de seu quarto mandato consecutivo e sua morte reavivou velhas discussões sem fim sobre se a Venezuela era uma democracia ou não e sobre se ele fez bem ao seu povo ou não.
Caudilhos são caudilhos exatamente porque são amados por seu povo, e são amados porque são carismáticos e distribuem benesses.
A democracia, nesses casos, principalmente na América Latina, passa a ser um enfeite de prateleira, e o desrespeito às formalidades democráticas se justifica, segundo seus defensores, por eventuais “avanços sociais” que venham a ser conseguidos.
O raciocínio “ad absurdum” que passa a vigorar é este: quer dizer que nao dá para conseguir “avanços sociais” sem sacrificar a democracia ? Estão aí as prósperas democracias do Ocidente para mostrar que essa é uma falácia.
A prosperidade, a equidade e as sociedades mais justas, são filhas da democracia e não do autoritarismo.

Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mail: [email protected]

Compartilhe

Uma ideia sobre “Prosperidade, filha da democracia

  1. Apolinário Zarzuela

    O título não encontra respaldo na realidade. Sempre houve ditaduras muito prósperas na história antiga e contemporânea. Vide Hitler, Stalin, a China atual e, no Brasil, a ditadura Vargas e a ditadura militar brasileira. A democracia é filha da liberdade, esta sim um valor perene em si mesmo. De resto, qual o problema de comemorar a morte de tiranos? Isso faz parte da mesma liberdade que garante a democracia e o direito de qualquer um criticar ou elegiar sujeitos como Chávez. Falou muito, disse pouco.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.