6:49Um depoimento

por Célio Heitor Guimarães

A propósito da atual celeuma envolvendo o Hospital São Vicente, que negou atendimento ao cidadão Saul Raiz, baleado em tentativa de assalto nesta Capital, sinto-me no dever de oferecer um depoimento pessoal que pode ter interesse geral. Não sobre o ex-prefeito Saul Raiz que, felizmente, recupera-se satisfatoriamente no Hospital Evangélico, mas sobre o dito nosocômio instalado na Avenida Vicente Machado.

Alguns poucos anos atrás, ao voltar para casa, no meio da tarde de um dia da semana, deparei-me com uma cena chocante no saguão do prédio onde moro: uma jovem mãe, que eu conhecia apenas de vista, em estado de desespero, tinha o filho – um menino de, se tanto, dois anos de idade – desacordado no colo. Ele respirava com dificuldade e não reagia aos esforços da mãe. Ela não sabia o que acontecera. De repente, sem motivo aparente, ele ficara naquele estado e, por mais que tentasse, não conseguia fazê-lo voltar a si. O porteiro, ao telefone, tentava buscar socorro, mas todos os números ditos de atendimento em tais ocasiões encontravam-se ocupados.

Não tive dúvida. Coloquei mãe e filho em meu carro e rumamos, rápido, para o hospital mais próximo. Por acaso, o São Vicente.

Largamos o carro no estacionamento e corremos para a recepção do hospital, um pouco mais adiante. Mal entramos e fomos recepcionados pela atendente com um aviso seco e calhorda:

– Aqui não temos serviço de pediatria.

– Mas a criança está passando mal – insisti. Não podiam, ao menos, dar uma examinada?

– Não – repetiu a atendente -, não fazemos esse tipo de atendimento.

Perdi a paciência e exigi a presença de um médico. Com má vontade, um discípulo de Hipócrates foi chamado. Apareceu na porta de acesso ao interior do hospital e, de rosto enfezado, sem sequer olhar para a criança ou para a mãe em lágrimas, confirmou o que dissera a atendente. Ali não davam aquele tipo de atendimento. Virou as costas e voltou para os seus elevados afazeres.

Voltamos ao carro e nos dirigimos ao Hospital Pequeno Príncipe, muitas quadras adiante, onde o pequeno Vitor, graças a Deus e à responsabilidade dos profissionais ali presentes, foi não apenas recebido com presteza e carinho, como também tratado e salvo.

Para ser bem honesto, devo confessar que, nesse último trajeto, desrespeitei a sinalização e cruzei dois sinais fechados. Tinha, porém, uma certeza absoluta em mente: se eventualmente sofresse um acidente, não procuraria socorro no no caridoso Hospital São Vicente.

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6 ideias sobre “Um depoimento

  1. Pelamordedeus

    Aquela velha e tão reformulada pergunta: a quem o indivíduo serve? Cidadania não existe, humanidade muito menos! O egoísmo impera!!!

  2. Ivan Schmidt

    Bravo Celio Heitor: seu depoimento é de importância fundamental para que se compreenda algo mais sobre a visão mercantilista que impregna quase todos os setores da vida.
    O Anselmo também tocou num ponto sensível. Mas, como fechar o hospital é complicado, a punição pesada aos diretores será uma medida pedagógica.
    Uma última sugestão: que se mude urgentemente o nome da coisa. São Vicente não merece o insulto!

  3. Parreiras Rodrigues

    Quero aproveitar o embalo do iluminado CHG, para registrar um pedido de remissão de crime eleitoral que pratiquei em 82 contra Sal Raiz, quando candidato contra Zé Richa e aproveitar para lhe desejar serena, tranquila e breve recuperação.

    Sucedeu que na campanha, entradas e saídas de todas as cidades da minha região: Loanda, Sta Isabel Mte Castelo, Querencia, Porto Rico, Nova Londrina, enfim, todas mesmo, estavam enfeitadas com enormes painéis do dr. Saul. Do Zé Richa, nadinha de nadica. Numa noite, eu e mais dois pintoloucos emedebistas, arrancamos duas ou três placonas daquelas e o Irmão, apelido do rapazinho pintor aderente, lixou-as e tascou nelas a propaganda do Véio Richa.

    O “crime eleitoral” em nada diminui a admiração e o respeito que sempre nutri pelo nosso ex-prefeito, ex-secretário dos Transportes e renomado engenheiro. Tava eu na Quadra Cultura, do Torto, prá ver Jerry Adriano, quando amigo meu falou do atentado no celular. Fiquei phodhidho.

  4. Mr. Walker Bush

    Alguém já se interou sobre a Privatização da Saúde Pública no Brasil???E as suas consequências. Esse é o exemplo.

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