7:55O repórter Rubem Braga nas terras do Paraná

por Sandro Moser, da Gazeta do Povo

A prosa refinada de Rubem Braga registrou na história o momento da “modernização” do Paraná. Ainda repórter do jornal Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, ao lado do colega Arnaldo Pedroso d’ Horta, ele foi cronista da transformação urbana de Curitiba em 1952.

Na reportagem, Braga acompanhou o percurso do café colhido nas terras vermelhas até o Porto de Paranaguá. O relato de viagem virou o livro Dois Repórteres no Paraná, publicado no ano seguinte e reeditado pela Imprensa Oficial do Estado em 2001.

De passagem rumo ao norte do estado, o faro do repórter viu Curitba, às vésperas de seu centenário, erguendo o Centro Cívico e os primeiros arranha-céus no centro. Ele previu que a cidade voltaria “a ser a capital de um Paraná mais forte que começa a tomar, aos nossos olhos, o que chamarei de dimensões paulistas”.

Ao carioca convertido encantava o proverbial “clima europeu” daqui e o fato de que o progresso aparentemente não maculara a prosaica vida interiorana dos curitbanos.

“Os lavradores continuam a trazer suas carroças ‘polacas’ na porta da casa das famílias e estudantes e professores continuam a achar ambiente bom e tranquilo para fazer desta cidade um centro universitário cujo prestígio cresce sem cessar”, escreveu, ressaltando a importância da então cinquentenária Universidade Federal do Paraná.

Faroeste

Braga testemunhou o momento em que o dinheiro dos “barões do café” catapultava a vila pacata de Londrina numa “agitada cidade do velho oeste”.

A cidade, então com 35 mil habitantes, tinha o entusiasmo dos imigrantes, corrupção política, violência e “vida noturna com damas cariocas, argentinas e uruguaias, boate e cantores internacionais”, anotou.

Ele viu brotar “os prédios novos e os edifícios de cimento armado, de linhas modernas”, erguidos pelo ululante dinheiro dos cafezais. E soube rir da ostentação dos novos ricos locais: “um barbeiro qualquer cobrava o mesmo preço do barbeiro do anexo do Copacabana Palace; sete cruzeiros, isto é, pelo menos dez, com a inevitável gorjeta”.

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