de Fausto Wolff
Digo para a minha filhinha:
Aquele senhor bem-vestido
Dentro do Mercedes cinza,
Ao lado da moça loura
Só hoje, com muita calma
Assassinou mais de
Quinhentas crianças,
Exterminou mais de
Trezentos velhinhos,
Levou ao suicídio
Cinqüenta pais de família,
Isso, pela manhã.
À tarde prostituiu mais de
Duzentas mocinhas,
Transformou em criminosos
Quatrocentos operários;
Expulsou de suas terras
Quase mil agricultores.
Antes de encerrar o expediente
Deu entrevista coletiva,
Enfatizando a necessidade
De moralizar o país.
Aquele senhor elegante,
Barriga proeminente
E sorriso irresponsável
Para fazer tudo isso
Ganha um alto salário
Pago por todos nós.
É nosso representante
No Congresso nacional.
Não tem alma
Nem escrúpulos,
Não sabe o que é caráter,
Nunca derramou uma lágrima.
Este monstro nós criamos
Em nome da democracia
Para nos tiranizar.
Esta é a tradição
Da nossa tribo
Que ama os seus algozes.
Castigo de um Deus Comediante
Que nos deu como modelo
Justamente o opressor,
Aquele filho-da-puta
Que todos almejam ser.
Mata-lo não adianta,
Pois tem filhos, netos, capangas
Que depois de se vingarem
Seu trabalho continuarão.
– Que pesadelo terrível,
Este que estás contando –Exclama a minha filhinha.
Os porcos comandam o mundo
E não há nada a fazer
Senão ganhar um diploma e
Em porcos nos transformarmos.
Aquela água clarinha,
Do lago cor de cristal,
Ninguém quer,
Para nada presta
É o lugar onde o sistema
Põe os loucos para delirar.
O sonho de liberdade
Custa a alma e causa dor.
Transforma o poeta socialista
Num porquinho ditador.
“A coisa tá feia, a coisa tá preta!!!! Quem não for filho de DEUS, tá nas unhas do capeta.”