9:34O prefeito e as vacas

por JamurJr

Nivaldo Kruger é um político do tempo em que estes eram alvo de homenagens quando chegavam numa cidade, com direito a desfile escolar, bandeirinhas, fanfarra, missa e convite para ser paraninfo dos estudantes que estavam se formando. Bem diferente dos dias atuais, onde grande parte desses “profissionais” preferem esconder o que são, para evitar vaias e ovos nos locais que frequentam. Pois bem, Nivaldo era diferente, como quase todos os de seu tempo. A diferença também se observava na maneira de se relacionar com o povo. Afável e tolerante, tinha sempre uma boa palavra para dizer em resposta a uma indagação; e um bom conselho para quem pedia. Nascido em Canoinhas (SC) construiu sua vida e fez carreira política em Guarapuava. Foi prefeito, deputado, senador, e quando encerrou sua vida pública, passou a se dedicar a pesquisas de nossa história, escrever livros e e fotografar cenas do Paraná. Antes de sua primeira eleição como prefeito de Guarapuava, a cidade convivia com um problema que incomodava alguns moradores. Fazendeiros levavam suas vacas para o centro da cidade onde tiravam o leite e as deixavam perambulando pelas ruas. À noite elas dormiam numa praça e pela manhã as marcas malcheirosas de sua passagem pelo logradouro perturbavam o olfato dos transeuntes e borravam botas. Um grupo de senhoras procurou o candidato para dar apoio mediante um compromisso: tirar as vacas do centro da cidade. Compromisso aceito, veio a eleição e certo dia Nivaldo recebeu o mesmo grupo cobrando a promessa de campanha.

– Quando o senhor vai tirar as vacas de nossas ruas, prefeito?

– Já – e mandou fazer uma portaria proibindo o passeio de vacas pelas ruas centrais.

A portaria foi ignorada e o prefeito teve que editar um decreto estipulando multas e apreensão dos animais encontrados nas ruas. Em poucos dias uma área da prefeitura destinada a animais apreendidos  ficou lotada de vacas,  o que provocou forte reação de alguns fazendeiros. Nivaldo não contava com uma guerreira destemida e agressiva, dona de um pequeno plantel de vacas leiteiras que, ao receber uma intimação do juiz, em resposta invadiu o gabinete do magistrado, interrompeu uma audiência e lhe lhe disse um mujndo de desaforos. O juiz mandou retirar a força a mulher. Na saída ela ainda teve tempo de dizer em voz alta.

– Me solte, senão em conto pra todo mundo umas historias de tuas parentes  lá no Sudoeste.

E dando alguns passos em direção a porta, voltou o rosto e acrescentou:

-E não falo de uma parente bem próxima por que ela já morreu.

Foi presa por desacato.

Dias depois essa senhora, que se apresentava como de família tradicional, casada com fulano de tal, procurou o prefeito e sem pedir audiência foi entrando no gabinete  onde estavam com ele o bispo  e o juiz de direito,  numa reunião.

– Mas, o que é isso? – indagou o prefeito.

-O que é isso, piá, você vai ver. Este papelzinho (mostrou o decreto) que você assinou, pra mim vale menos que a bosta das minhas vacas que estão presas. Trate de libertar elas já!

– Calma, dona, eu vou providenciar.

E mandou um funcionário liberar da multa e soltar as vacas

-Pronto,  já mandei soltar suas barrosas.

-O que? Barrosas? Pois fique sabendo que as minhas vacas são holandesas. Esse piá, que vem de Santa Catarina, nem sei quando e por que, querendo mandar em nós… Ora, ora….

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