19:13Diários Selvagens

por José Carlos de Oliveira

“Preciso comprar uma japona, uma botina e um suéter” (23 de julho de 1975)

“Deus é caçador, pratica a caça-ao-pombo. Os pombos somos nós, artistas, quando atingimos a maturidade e, antes de iniciar nossa revoada, somos abatidos em pleno vôo” (18 de março de 1976)

“Incomoda-me o estômago, alguma coisa intermédia entre dor e fome” (22 de novembro de 1976)

“Inclino-me a escrever logo a história do seqüestro do embaixador. Merda! Neste diário só digo o que vou fazer, enquanto isso não faço nada. Fernando Sabino dá entrevista despedindo-se da literatura. Ainda bem. Sem angústia, isso é mau. A hipocrisia mineira me fascina”(29 de novembro de 1976)

“Difícil nesta altura recuperar minha personalidade silenciosa: já me cristalizaram brincalhão, palhaço, e por causa disso ando a perder mulheres. Merda. Sou dois ou três? Ou ninguém? Ah!” (30 de novembro de 1976)

“Fui e voltei de ônibus de Copacabana. Vi Taxi Driver. Deslumbrante”(1o de dezembro de 1976)

“Chove aos potes desde ontem. São 20h30. Esforço para diminuir o cigarro: controlando pelo relógio. Vai ser difícil. Azia. Dores. Gastrite”(09 de novembro de 1976)

“Teoricamente bem. Melhor seria controlar o consumo de cigarros, mas me privo de tanta coisa no momento que seria uma injustiça. Ontem estive com Bruno, filho de Marcos de Vasconcellos, que com sua gatinha Kátia veio me procurar. Bom menino, escreve poemas ainda neuróticos, sem pé nem cabeça, mas se tiver um grão do talento do pai será algum dia um verdadeiro escritor. Está com 19 anos, Kátia é jovem, bela, e também escreve. Fiquei com inveja. Eu tão só e aquele boboca, feioso, meio debilóide, que conheço desde criancinha, namorando firme uma bela garota calma e carinhosa… Merda!” (29 de março de 1977)

“Durmo quase duas horas. Quelacid como antiácido, no tratamento de hiperacidez gástrica, gastrites e úlceras gastroduodenais. Gostoso xarope. Espasmoplus – antiespasmódico, analgésico e antipirético. Supositório em forma de projétil balístico rosa-shocking” (08 de outubro de 1977)

“Sonhei ontem que estava trepando com uma portuguesa na Assembléia Legislativa de Lisboa”. (09 de outubro de 1977)

“Um punhal pode passar gerações inteiras servindo para cortar páginas dos livros, numa atividade inofensiva e solitária. Só quando a mão de um assassino o empunha é que o punhal se torna sanguinário” (06 de janeiro de 1978)

“Entrevista longa e sofrida para Atenção, mensário de Curitiba dirigido pelo Reynaldo Jardim. Cartas na Veja: gratificantes, mais que na semana anterior. E entrei na lista dos 10 mais da semana, já no sétimo lugar, acima de Contatos Imediatos. O fato de esmagar, no Rio e agora no Brasil, um bestseller americano me enche de orgulho” (28 de agosto de 1978)

“Saúde péssima. A doença bloqueia a imaginação” (26 de fevereiro de 1986)

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