7:42Denuncismo e caguetagem

Recebemos de um colaborador do blog a seguinte mensagem que abre espaço, a quem interessar, para o debate:

Definitivamente, a história do jornalismo araucariano não seria a mesma sem a revelação de algumas observações e bastidores que cercam a entrevista do delegado Newton Tadeu Rocha, publicada na última edição dominical do jornal Gazeta do Povo (que na verdade começa a circular às 14h de sábado!).

“É preciso modernizar a Polícia”, diz a manchete, reproduzindo frase aspeada do entrevistado. Ninguém discorda. Antes, é bom discutir – e conhecer – os métodos e medidas que se pretende usar para a tal modernização. Por exemplo, o método Gazeta, que há poucos dias patrocinou uma série de reportagens (?!) intitulada “Polícia fora da lei”, apontando supostas irregularidades no comportamento de policiais civis e militares.

Uma delas envolveu diretamente o delegado Newton Tadeu Rocha, “flagrado” de bermuda na praia, saindo de viatura policial descaracterizada. Isso aconteceu no dia 10 de março, segundo a denúncia. Pois bem, na entrevista de domingo, o próprio jornal admite que o delegado estava a serviço, e comprova a afirmação publicando nova foto, dos arquivos da polícia, com o delegado entregando carteiras de identidade a moradores de Guaraqueçaba, usando os mesmos trajes da denúncia – bermuda, camiseta e chinelos. Estaria ele mal-ajambrado para o cumprimento oficial da missão de entregar documentos, também oficiais, a moradores do litoral?

O fato é que a entrevista também não tem “perguntador credenciado”, porque não há nenhum repórter ou editor que se tenha disposto a assinar a dita cuja. Talvez porque estejam todos envergonhados do que fizeram (antes ou depois?). Talvez porque tenha baixado na direção o espírito do doutor Francisco, sempre cioso na defesa dos interesses maiores e permanentes da Gazeta do Povo. Talvez.

Uma explicação plausível pode ser a afirmação da jornalista e professora Elza Oliveira Filha, da Universidade Positivo, na reportagem – da mesma Gazeta – sobre os 40 anos do Watergate. Diz ela: “Precisamos mostrar a necessidade do aprofundamento na investigação jornalística. Temos muitas reportagens de denúncia hoje, mas poucas matérias investigativas”. Essa é a verdade. Odorico Paraguaçu, com seu poder de síntese calcado na realidade, diria que o jornalismo araucariano, sobretudo o que se refere ao noticiário recente, sofre de “denuncismo de cagueta”.

Mestre Pasquale Cipro Neto ensina que “alcaguete, alcagueta, caguete e cagueta” formam uma única espécie, que no caso da série “Polícia fora da lei” atuou pelas mãos de policiais que “investigaram” policiais, despejando o resultado nas páginas do jornal. Nem sempre, como se vê agora, com fundamentos.

Em vez de investigar, a Gazeta preferiu denunciar. E agora se vê pressionada a reparar os estragos. Mas a Gazeta se supera. Em outra página, a entrevista do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, a anunciar que o governo federal estuda baixar os preços dos smartphones, mereceu o crédito ao repórter. Mais uma pista que complica a explicação para a omissão no caso do delegado.

Enfim, parecem insondáveis os mistérios que cercam o jornalismo araucariano. Mas todos concordam que é preciso “modernizar a Polícia”.

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6 ideias sobre “Denuncismo e caguetagem

  1. Velho de Guerra

    É preciso moralizar a polícia e modernizar o jornalismo! É preciso que os “professores” ou seja os formadores desses profissionais busquem permanentemente nas salas de aulas das faculdades e academias a modernidade e não apenas a retórica dos já desgastados conceitos. Aonde se ensina acadêmico de jornalismo o que que é e como se procede uma investigação? Portanto, é recorrente o teor da “entrevista” e a manifestação da professora.O que nós sociedade precisamos é poder confiar na verdade jornalística e policial e isso demanda moralização e modernização.

  2. Jucilei

    Essa é a famosa Gazeta do Povo. Cinco meses de investigação para jogar o nome de um delegado e de uma instituição na lama indevidamente. Responsabilidade jogada para escanteio. E nem um pedido de desculpas publica existiu. Gazeta do Povo o jornal que o Paraná não quer ler!

  3. Conde Edmundo Dantas

    O que me admira é que ainda tem gente que lê este jornaleco. Como diz o blogueiro: Expressionante!!!!

  4. Fabiana

    Realmente, a gazetona deve estar tentando apenas amenizar a situação do referido delegado, pois se eu fosse ele entraria com uma ação de danos morais com toda força contra a Sra gazeta, e vá saber quantas mentiras mais contaram na reportagem, a verdade sempre aparece.

  5. Pingback: SIDEPOL – Sindicato dos Delegados de Polícia do Paraná

  6. rubens

    A GAZETA DO POVO QUE, ANTES TINHA UM GRANDE RESPEITO PELA SUA LINHA JORNALISTICA MACULOU POLICIAIS, DELEGADOS, FAMILIARES , FILHOS..NUMA PORCARIA DE MATERIA. JOGOU NO LIXO FEDORENTO VIDAS DE PROFISSIONAIS EXEMPLARES. ESCRACHOU NOSSAS CASAS, NOSSOS FILHOS, SEM SE PREOCUPAR5 COM AS CONSEQUENCIAS. JOGOU QUATRO REPORTERES NA FORNALHA DO INFERNO. VAI CUSTAR CARO A ESSE JORNALECO. DEIXO BEM CLARO QUE ISSO NÃO É UMA AMEAÇÃO. É SIM DEMONSTRAÇÃO DE QUE MUITAS AÇÕES POR DANOS MORAIS V~ÇAO TER QUE RESPONDER.ME SENTI MUITISSIMO OFENDIDO COMO PROFISSIONAL DE MAIS DE TRINTA ANOS DE CARREIRA. VÃO CUIDAR DE SEU JORNAL, DE SUAS CASAS E DE SUAS FAMILIAS. A NOSSA NOS CUIDAMOPS E MUITO BEM.

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