5:46Nadando contra a maré

por Ivan Schmidt

O senador Roberto Requião, que tem controle absoluto sobre o diretório municipal do PMDB em Curitiba, embora não seja inteiramente seguro afirmar que esse comando se estenda aos demais municípios, está se propondo a executar uma tarefa que, a bem da verdade, já fora verbalizada em ocasiões passadas e jamais cumprida. Ou seja, fazer reviver aquilo que descreve com o recorrente mote “MDB Velho de Guerra”, hoje nada mais que uma proclamação inconvincente.

E praticamente impossível, diria o Conselheiro Acácio. Mesmo porque do MDB Velho de Guerra, em se tratando do Paraná, pouco ou nada restou. Afinal, o partido que lutou bravamente pela restauração da democracia, lutando nas praças públicas (ao lado de outros, é verdade) há muitos anos passou a se ressentir da ausência de homens públicos que enriqueceram uma legenda que resistiu, apesar de todas as adversidades, nos tempos bicudos da ditadura, quando se concedia ao Congresso a permissão de permanecer aberto se a contrapartida fosse a estrita obediência aos ditames do regime de exceção.

Muitos desses homens importantes para a restauração da democracia já não estão entre os vivos. Morreram Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Mário Covas, Franco Montoro, José Richa, Orestes Quércia e tantos outros, cujas lacunas foram lamentavelmente preenchidas por José Sarney, Jader Barbalho, Renan Calheiros, Romero Jucá, Sérgio Cabral e Geddel Vieira Lima, entre outros oportunistas da política brasileira.

O exemplo do reducionismo peemedebista pode ser visto no escasso remanescente dos áureos tempos do partido então liderado por Pedroso Horta, Adauto Lúcio Cardoso, Nelson Carneiro, Paulo Brossard, Waldir Pires, e outras figuras reverenciadas da vida pública.

O remanescente do MDB Velho de Guerra no Congresso, por exemplo, se restringe à atuação quixotesca dos senadores Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos, que ainda teimam em nadar contra a maré, divergindo abertamente das orientações do próprio partido, hoje comandado no Congresso pelo antigo serviçal do presidente Fernando Collor, Renan Calheiros. Talvez seja correto incluir nessa brigada de Brancaleone os senadores Roberto Requião e Luiz Henrique da Silveira.

No Paraná é muito difícil localizar nas fileiras do PMDB, além de Requião e uns poucos companheiros, alguém que se enquadre do ponto de vista ideológico aos ideais que nortearam o desempenho partidário até o final dos anos 80. Já na representação eleita pelo PMDB à Assembleia Nacional Constituinte, cuja atuação se encerrou em 1988, havia uma quantidade maciça de democratas da véspera que ao lado de representantes de legendas claramente de centro-direita formaram o tristemente lembrado “Centrão”.

A leniência da direção do partido, então minada pela vanguarda do atraso que já ocupava posições de destaque nos círculos dirigentes, resultou na evasão do grupo influenciado por Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas e José Serra, resultando na criação do PSDB.

O senador tem uma tarefa hercúlea e não será com o discurso saudosista que tenciona remeter o eleitor ao passado, que fará renascer das cinzas qual ave Fênix o histórico partido capitaneado por José Richa e Álvaro Dias, que além da maioria dos deputados estaduais elegia os prefeitos de todas as cidades importantes do Paraná, deitando e rolando nos municípios de médio e pequeno porte. Um desses beneficiados foi exatamente Requião, eleito para a prefeitura de Curitiba após memorável campanha liderada pelo governador José Richa, licenciado do cargo para ir às ruas pedir votos para o ex-deputado estadual.

Quando se alega que o discurso retroativo quase nada acrescenta, é porque sobram evidências de que a maioria dos eleitores está preocupada com o futuro, vale dizer, se haverá garantia de empregos e bons salários e, para ficar na camada epidérmica da problemática social, se haverá oferta universal de serviços públicos de educação, saúde e segurança, em padrões compatíveis com a dignidade humana.

Da mesma forma que os demais partidos, o PMDB não cuidou do recrutamento e formação política de quadros egressos dos meios universitários, das profissões liberais, das entidades de classe e mesmo do ambiente empresarial. Aliás, hoje essas pessoas fogem da política como o diabo da cruz. Por essas e outras o MDB Velho de Guerra é apenas um retrato esmaecido que o tempo se encarregou de maltratar.

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2 ideias sobre “Nadando contra a maré

  1. Gasparzinho

    Bela análise… Só pecou ao não listar dentre os peemedebistas os noms de Doático e Greca….Dois baluartes do PMDB Velho de Guerra…

  2. jodi schinemann

    Pois é meu caro Ivan,nos restou apenas fotos,saudades de um tempo em q éramos uma família,q tinha discurso,credibilidade e muita determinação.Hoje temos 46 anos de história com um presidente catarinense,q foi caminhoneiro para Rondônia virou diretor do Der,Governador e Senador…

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