8:22Vergonhas

por Luiz Caversan*

Vergonha alheia.

É aquela vergonha que a gente sente pelo outro, pelos outros, vergonha que um outro deveria sentir e não sente, não está nem aí.

Eu morro de vergonha alheia. Talvez devesse indignar-me, ficar irritado, esbravejar, mas confesso um certo desalento, um desencanto que leva apenas à vergonha alheia.

Imagina um rei. Imagina um rei em pleno século 21. Imagina um rei de um país que está à beira da falência, com mais de 20% de desemprego, como é o caso da Espanha. E o que esse rei idiossincrático e fora de moda resolve fazer para ocupar seu tempo? Vai à África caçar elefantes, com direito a foto com rifle na mão e a pobre e mastodôntica vítima ao fundo. Era para sentir raiva, mesmo, mas não.

Vergonha…

Bem, como disse um gaiato numa rede social por aí, o rei mata elefante enquanto seus súditos matam touros, afinal são todos bem treinados desde que matavam índios nas Américas.

Vergonha…

Índios. Quinta-feira foi dia do índio. Antigamente, lembrou o Fernando Rodrigues, desta Folha, o Brasil se recordava de seus índios pelo menos nesse dia. Tinha homenagem, hino, festinhas. Hoje, os índios que se danem, estão no noticiário apenas como bandidos que invadiram as terras que fazendeiros lhes roubaram na Bahia, pobres pataxós.

Vergonha…

Dois dos mais altos magistrados do país trocam ofensas pela imprensa. Antigamente, juízes se manifestavam apenas por intermédio dos autos, nada mais. Agora, posam na cama para a revista Caras e batem boca via colunas de jornal. Peluso acusa de inseguro Barbosa que acusa Peluso de racista, entre outras carícias. Mesmo que os dois estejam certos, o que dá para sentir em relação a isso?

Vergonha…

Bastou a presidente da República dar um passa-moleque que os banqueiros amarelaram e baixaram os juros mais altos do mundo. Pode não dar em nada, como torcem os que odeiam Dilma. Mas, aqui entre nós, os dois maiores bancos privados do país terem juntos, em 2011, R$ 25 bilhões de lucro faz a gente sentir o quê?

Vergonha…

E a cachoeira do bicheiro Carlinhos encharca a República e suas vestais de nomes gregos ou não. E lá vem a CPI para dar holofote aos que pregarão moral, justiça e ética. Quem estará entre os membros da CPI? Elle, ninguém menos que Fernando Collor de Mello.

Vergonha até chorar…

Colunista da Folha.com

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