6:23A tristeza do general

por Célio Heitor Guimarães

O “barraco” aconteceu defronte ao Clube Militar, no Rio de Janeiro, no final da semana passada. Dentro do clube, cerca de 300 pessoas comemoravam (comemoravam?!) o aniversário do golpe de 1º de abril de 1964. Fora, cerca de 500 pessoas protestavam contra o evento. Os militares que chegavam eram recebidos pela plebe aos gritos de “assassino” e “torturador”. Ovos foram arremessados contra o portão do clube. Em represália, os homens da farda – todos agora de pijama, na reserva, posto que aos em atividade tais manifestações são proibidas – faziam gestos obscenos para a malta. Um deles, mais saudoso dos tempos de chumbo, chegou a sair do clube para chutar alguns civis.

Ao final do evento, denominado “1964 – A Verdade”, o vice-presidente do Clube Militar, Clóvis Bandeira lamentou:
– Vejo com tristeza uma ação dessas. Um monte de gente que quer proibir que outras façam reunião só porque têm pensamento diferente deles. Curioso, não?

Achou curioso, general? Imagine querer proibir que se façam reuniões só porque se tem pensamento diferente!… E não foi exatamente por isso que vossos colegas de farda tomaram conta do Brasil nos idos de 64, prenderam, torturaram, mutilaram e mataram milhares de brasileiros, institucionalizando o terror no país durante longos 21 anos?

Vossa memória é curta, general. E a de muitos de seus colegas também. Não há nada para comemorar na quartelada de 1964. Dela, aliás, só se deve lembrar para evitar que volte a acontecer. Como o holocausto durante a II Guerra Mundial. Com a redemocratização do Brasil, civis e militares reaprenderam a conviver em paz. Mas têm o direito de saber a verdade. Averdade verdadeira e não a versão recitada no Clube Militar ou nos quartéis .A estes cabe explicar, por exemplo, o que foi feito, em 1975, ao jornalistaVladimir Herzog nos porões da ditadura. A Comissão Interamericana deDireitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos, quer saber.

Sabe qual foi o crime de Vlado, general Bandeira? Ter pensamento diferente daqueles que se julgavam donos do Brasil. E por isso foi “suicidado” no DOI-Codi de São Paulo. Hoje, isso é apenas “curioso”, ainda que deixe o general triste. Que bom que assim seja e assim continue.

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17 ideias sobre “A tristeza do general

  1. anonimo

    Célio, só discordo em um ponto: se os manifestantes que lá estavam agiram como vc descreve em nada são diferentes dos generais de pijama. Aliás, duvido que a maioria ali saiba o que foi aquele período, duvido que a maioria dos manifestantes saiba o que realmente aconteceu naquele período.

    Se eles não tivessem ido até lá o evento passaria desapercebido, dada sua desimportância. E um evento como este é igual aos que comemoram a revolução russa, ou o khmer vermelho, não passa de velharia saudosista de um tempo que já foi e nunca mais deve voltar.

    Herzog foi uma vítima, que pagou com a vida assim como tantos outros. Deve ser lembrado sempre como um vítima de um período negro de nossa história onde um grupo lutava para implantar uma ditadura de esquerda e outro conseguiu implantar uma ditadura militar. Ou estou errado? Se eu estiver, por favor me corrija enviando um manifesto, documento ou coisa que o valha de qualquer um dos lados pregando liberdade e demovracia, de preferência um documento com data de 1960 a 1967 por exemplo.

    A diferença é só esta: nós, “os civis”, ficamos no meio de uma luta feroz pelo poder.

    Graças a Deus isto passou e deve ficar no seu dvido lugar, no passado; como muitos que a exemplo dos generais já deveriam se políticos de pijama.

  2. Velho de Guerra

    Anônimo, concordo e mais um pequeno e importante detalhe ambos os lados muito bem remunerados (indenizações e aposentadorias) para usar pijamas. E “nóis” óh !

  3. Zaga

    Como disse Millor Fernandes a respeito dos “esquerdistas que correram a receber seus milhões da “Bolsa Ditadura” no governo do PT: “Quer dizer que aquilo não era ideologia, era investimento” (Veja – ed. 2263 – 4/4/2012)

  4. Raphael Junqueira

    Assim como o Anônimo tb quero receber este documento!!!
    Temos que parar de querer atribuir culpas a somente um dos lados daquela que foi uma guerra invisível, mas que deixou sequelas em ambos os lados; morreram militantes da esquerda (cerca de 300 e não milhares como exagera Célio), morreram militares e também morreram civis que não estavam nem de um lado nem do outro.

  5. Laura S.

    Discordo de vc Anônimo, o assunto tem que vir à tona sim. Temos que fazer barulho.

  6. Ivan Schmidt

    Célio Heitor: seu texto mostra a dificuldade de tratar de temas ligados ao golpe militar, sobretudo, a morte ou o desaparecimento de inúmeros presos políticos. Para não falar da tortura física e mental que tantos outros enfrentaram… E como o ventre da serpente ainda está fértil (a expressão é de Ingmar Bergmann), é natural que a nostalgia venha à tona…

  7. anonimo

    Laura, suponha o seguinte: e se o pessoal militar que se reuniu, fizesse lá uma homenagem aos que morreram em atentados, ações da esquerda, tribunais revolucionários ou os famosos “justiçamentos”?

    Também devemos fazer barulho????

    Tem uma lista grande (procure na internet), desde civis que deram azar de estar no lugar errado a companheiros que foram assassinados porque queriam desistir e aí?

    Não tinha anjinhos em em nenhum lado e por conta disto muitos inocentes morreram.

    Uma coisa é certa: pagamos e muito caro por esta aventura de alguns e beneplácito de outros.

  8. Emerson Paranhos

    Infeliz, imoral e cheio de ranço de ideologia ultrapassada é o comentário. Comparar o período militar ao holocausto é no minimo coisa de pessoas mal intencionadas, interessadas em apenas uma versão da história recente do Brasil. Quem estava com cusparadas foram pessoas convocadas via email, se isto fosse feito por qualquer pessoa não comprometida com a esquerda mentirosa, para os intelectuais seria crime ou pau mandado
    Naquela época a opção era sim virar ditadura tipo Cuba, Albania, Camboja etc. Isto é p que defendiam os Vlado da Vida.
    Muito justo se esclarecer as condições da morte dele. Certo. liquido e justo, mas precisamos urgente que a OEA, ONU, ONGS, Comissões de Direitos Humanos, Comissão da Verdade, jornalistas como o cidadão agressivo aí, apure com urgência as condições dos assassinatos ocorridos no Aeroporto de Guararapes, do atentado a bomba que mutilou Armando Lovecchio filho, do carro bomba que ceifou a vida de MARIO kOZEL, o assassinato dos próprios companheiros e principalmente quem mandou, financiou e abandonou grupos de jovens no Araguaia, os iludido, ao garantir uma vitória rápida , certa e cheia de romantismo e os impondo o assassinato entre outros do Cabo ROSA, o primeiro a morrer, sob aplausos e hurras de seus assassinos, bons, inocentes e inofensivos moços. (iguais aos da cusparada ocorrida agora)
    Quem matou e “justiçou” seus próprios companheiros de ideologia?????
    Quem e porque se decidiu matar o Cap Chandler na frente da mulher e filhos? Só porque ele era americano?
    VERDADE AMPLA GERAL E IRRESTRITA.
    Ou será que apenas para o pessoal da esquerda ou para jornalistas é que se precisa revirar a história?
    Para restaurar a verdade completa temos também que saber a real atuação do Sr Herzog no apoio a terroristas,sequestradores e assassinos?
    ia esquecendo dos sequestros, de EMBAIXADORES, AVIÕES E PESSOAS. a mando de quem?? Por que APENAS a verdade DE UM LADO só.
    Em prol da verdade tudo isto tem que ser passado a limpo.
    Além disto, a atual presidenta deve em prol da verdade e das “nobres” inquisições da OEA esclarecer a participação dela nisto tudo, ao invés de ficar gemendo sugerindo isto ou aquilo. Diga quem, aonde e quando foi torturada
    VERDADE PARA TODOS JÁ.
    Já que devemos esquecer anistia e perdão, vaias e ovos também para assassinos de todos os lados. OU SERÁ QUE MAIS UMA VEZ OS COMUNISTAS VÃO INVERTER A HISTÓRIA CONTANDO APENAS A SUA VERSÃO E COM APOIO E PATRULHA CRUEL DA MIDIA COMPROMETIDA.
    Mais uma pergunta o que estava fazendo na China o tal de Paulão, mandado pelo PCdo B em 1962, plena revolução cultural e ali nomeado Capitão do Exército Chinês. Estava colhendo flores pela democracia???Ou em 1962 não havia democracia no Brasil??
    O que estava fazendo em Cuba em 1960/61, o Sr Carlos Marighela flagrado ao observar a execução de um civil pelo herói Guevara no Paredão? Estava aprendendo para usar contra regime de 1961/62 no Brasil? Ou estava preparando aquilo que chamavam a tomada do poder para implantação da ditadura do Proletariado.
    Ficar bravinho, hoje sem citar a realidade. da época e escrever bobagem é fácil.
    Analisar sem preconceito nem viés ideológica é outra.
    Posar de intelectual é uma coisa, ser fiel a verdade é outra.

  9. Parreiras Rodrigues

    Tudo começou cpm a renúncia de Jânio que imaginou o povo cerrando fileira ao seu lado, assegurando-lhe o poder. Era o que ele queria, para poder reinar absoluto.
    Mas o povo não está nem ai, como nunca esteve.
    Apenas, como boiada, segue o boi.
    João Goulart foi cassado por John Kennedy, pela Cia, pelos mariners que costeavam o litoral do Espírito Santo. Não era simpático ao Imperialismo.
    E as reformas de base – agrária, tributária, bancária, política, principalmente, não eram do agrado da elite, do latifúndio, e da direita da Igreja.
    E foram os argumentos usados pelos milicos reacionários que viam comunistas debaixo da cama e que de lá eles saiam prá comer criancinhas.
    O golpe do dia da mentira de 1964 foi hilário, pois nem um único tiro foi disparado. Um general Mourão Filho, do clero menor dos quartéis, mais o udenista Lacerda que usou o atentado da Toneleiro provocaram o motim.
    O núcleo bom da turma do verde-oliva – que não se dava bem com o poder civil, projetava dar uma arrumada no rumo do barco Brasil e entregar o timão – o leme, a quem de direito, os civís.
    Mas ai, a turma que tinha frequentado escola na Albânia, em Cuba, também se assanharam com a perspectiva de transformar o BR em em república totalitarista e danaram a assaltar banco, cofre de ex-governador, essas coisas. Deu no que deu. Atiçaram o ranco dos pilotos dos brucutús que decidiram prolongar a grande noite da escuridão. Instalou-se o regime de exceção, mordaças foram distribuidas, rodinhas de discussão foram esparramadas.
    Mas, tudo o que aconteceu entre 64 e 85 valeu a pena?
    Prá gente viver o que se vive?
    Medidas paliativas, pontuais.
    Corrupção escancarada e impune.
    O cara rouba, é mandado embora mas não devolve um puto do que afanou?
    Um governo escorado no escancaramento do crédito e na distribuição de pão (bolsas) e circo (copa)?
    Um congresso parte servil e parte mencantil.
    Uma justiça, verdadeiramente cega, sedentária e ainda por cima segurando no colo uma espada sem corte.
    Thamos phodhidhos.

  10. ricardo crovador

    Ridículo e mentiroso dizer que havia uma “revolucão de esquerda” em 1964. O João Goulart era o presidente constitucional e haveria eleição dali a sete meses. Os mais cotados candidatos eram Brizola e Juscelino. Os esquerdistas hidrófobos não tinha a menor chance, nem nas urnas e muito menos nas armas. A verdade é essa.

  11. Altemir Gumurski

    Aproveitando aqui a deixa do meu Amigo Emerson, vou dar o meu pitaco, não sei se o Zé vai publicar pelo motivo: que não tem muito a ver.
    Bem, é o seguinte: tenho 66 anos, sou agrimensor e posso dizer que conheço parte da Amazonia a pé. Também ninguém tem nada a ver com isso. Porém, reconheci aquele oficial velhinho que recebeu uma cusparada de um manifestante. É o naquela época cap Juarez. Ele foi meu chefe durante o trabalho na Transamazonica no trecho Cuiabá -Santarem. Duvido que ele tenha torturado ou prendido alguém – nem tempo para isso tinha, pois por mais de 5 anos convivi com ele em trabalho integral mesmo, (só 8 malárias).
    O sonho era integrar Cuiabá com Santarém complementando o modal rodovia/hidrovia, para aquilo que ele dizia ser o caminho mais ecônomico de escoar a futura produção de grãos de Mato Grosso, Rondonia, Goias, Maranhão, oeste da Bahia e oeste de Minas. Lembro também do major sonhando com reflorestamento com dendê nas margens da Cuiabá-Santarém para o futuro bio diesel. (dói hoje ver o Brasil importando alcool e bio diesel, olha vejam dos EUA – algo de errado está acontecendo)
    Então doeu profundamente em meu coração de velho ver aquela cusparada. Aquele rapaz por mais que faça pelo Brasil nunca chegará ao tanto feito pelo então Capitão e Major. Senão me engano ele trabalhou também no Nordeste em obras contra a seca.
    Por estas e outras que fica aqui minha revolta contra pessoas agressivas que generalizam os militares e se acham donos da verdade e da vingança indiscriminada, como o articulista, salvo melhor juízo, me parece ser. Não o conheço, o respeito. Mas lembro que respeito é uma via de mão dupla.
    Estão ofendendo demais os militares isto não é bom. Mostra falta de equilibrio. Importante lembrar que nem eu nem o Emerson somos ou fomos militares. Fui apenas um topógrafo do extinto DNER e tive o privilégio e a honra de trabalhar com os militares no final da década de 60 e na década de 70 quando a Amazonia Ocidental era um desafio.
    Abraços e desculpem ter me alongado e abusado de vossa paciência.

  12. Emerson Paranhos

    Crovador
    Leia o livro de ex secretario do PC, Ex febiano e pessoa do mais alto gabarito chamado Jacob Gorender. Será que ele é mentiroso???
    Pois ele descreve como andava o preparativo de golpe, com muito detalhes. Leia!!!!!
    Sem duvida O Jango era o presidente, assim como Brisola, o JK e você esqueceu do Lacerda e do Adhemar – todos cassados pelos milicos.

  13. Emerson Paranhos

    A pedido do meu amigo Gumurski, estou encerrando meus comentários sobre este assunto. Como diz o Guma: Não dá em nada minha opinião.

    abraços

  14. ricardo crovador

    Emerson Paranhos, o Jacob Gorender poderia ter diversos planos de contingência, para várias possíveis situações políticas, mas existia realmente alguma base real montada para levá-los à prática?
    O PCezão sempre foi contra as ações “foquistas” e só se aventurava a imaginar golpes com apoio militar. Então, seria um golpe militar de esquerda? Vou procurar o livro mas, por favor, me adinte esse pormenor.
    E você lembrou bem, o Lacerda seria um forte candidato à presidência contra Brizola e JK. E o ADhemar, pelo peso eleitoral de SP, teria de ser colocado na balança…

  15. ricardo crovador

    Ah, sim, minha opinião sobre as manifestações contra os militares da reserva: uma tremenda falta de educação e compostura. Com este tipo de atitude, estes manifestantes, se vivessem à época, teriam cometido violências e arbitrariedades. Dê-lhes poder e … aí de nós!

  16. anonimo

    Ricardo, excelentes comentários.

    Uma observação final: nós ficamos aqui discutindo, mas 99,9% dos que lá estavam não tem a mínima idéia do que aconteceu…

    O mairo problema hoje é a preguiça em estudar.

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