7:37Um porre, uma guerra

por Helio Teixeira

Trinta anos atrás, no dia 3 de abril, fui surpreendido e enviado pela revista Veja, onde trabalhava na sucursal curitibana, para cobrir a guerra das Malvinas. Ao chegar em Buenos Aires fui direto para a Praça de Maio junto com Alceu Nader, correspondente da revista na Argentina. A praça estava tomada pela população e, das janelas da Casa Rosada, o general Leopoldo Galtieri via e ouvia o coro de que as Malvinas eram Argentinas. Em junho, quem ousou ir clamar contra Galtieri e os militares pela derrota foi recebido por bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha, na mesma praça.

A ditadura estava em seus estertores.

Nenhum jornalista estrangeiro, durante o período da guerra, alcançou as ilhas. Os da BBC de Londres vieram junto com a frota que atravessou o Atlântico e botou para correr os argentinos do arquipélago, num saldo de mais de 900 mortos ( 649 argentinos e 255 britânicos). O máximo foi alcançar Comodoro Rivadavia, na Patagônia, ou Ushuaia, no extremo sul, tomadas por tropas e canhões.

Conta-se hoje que Leopoldo Galtieri estava de porre ao resolver invadir as ilhas – e estava também nesse estado quando o presidente americano Ronald Reagen ligou e só quatro horas depois o ilustre general conseguiu atendê-lo com a voz enrolada.

O que Galtieri fez está contado em prosa e verso: tentou desviar a crise da ditadura com uma atitude patrioteira e deu no que deu. De quebra livrou a cara de Margareth Thatcher, que também estava mal na fotografia com seu governo arquiconservador. Aliás, o filme onde desponta a insuperável Merryl Streep (A Dama de Ferro) trata superficialmente das Malvinas.

A frota e os soldados ingleses tiveram toda a inteligência dos Estados Unidos a seu serviço. Os franceses negaram pedidos de mais mísseis Exocet à armada argentina. O que os argentinos fizeram seria como o Brasil declarar guerra aos Estados Unidos ou o Paraguai ao Brasil.

O curioso nessa história é que em 74 dias que durou a guerra, os meios de comunicação argentinos perderam todo o senso crítico. Entraram com pés e cabeça na onda dos militares, mobilizando a população. Ao contrário da BBC, que não chegou a grandes patriotadas.

Agora, feito uma maritaca, Cristina Kirchner deita falação sobre a recuperação das Malvinas. Usa o “gancho” dos 30 anos da guerra, tem eco para o seu palavrório. Os ingleses andaram dando respostas, mas provavelmente perceberam que era dar corda para dona Cristina. Eles dizem que os “kelpers”, como são chamados os habitantes das ilhas, querem ser ingleses. Logo…

E conta-se que antes do porre de Galtieri, em 1982, os ingleses estavam a fim de se livrar desse pepino distante 12 mil quilômetros de Londres.

O que doses de uísque são capazes de provocar…

*Helio Teixeira é jornalista

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