18:34HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Libra

Deixou o quarto e cozinha do fundo de quintal e viajou uma semana ao lado do pai. Calados os dois. Na madrugada da cidadezinha subiu num jipe e foi para o mato. O candeeiro acendeu e iluminou o rosto índio da avó. Tomou banho e bebeu da mesma água de açude. Assou a bunda no lombo de um cavalo xucro. Manga, goiaba e pinha comeu depois de colher com as mãos de menino. Ouviu todos os cantos do imitador xexéu. Encantou-se com o topete do galo de campina. Algo mais vermelho? Embrenhou-se na mata antes que tudo virasse pasto. Recebeu carinho de mãos rudes. Ouviu a poesia de cantadores. O som rasgado da sanfona. Tiros quebrando garrafas na disputa no terreiro. Histórias de cangaço e da política onde a bala sempre falou mais alto. O cheiro da terra molhada pela chuva rara. As estradinhas ligando as casas feitas de barro. O olhar luminoso de todas as crianças na espera do que nunca virá. Então, retornou. E no ônibus um anjo morreu no colo da mãe. E ele viu a infância ser enterrada junto com o recém-nascido no meio do nada.

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