9:35Segue em paz, Al Rio

Canário Negro

Al Rio

por Célio Heitor Guimarães

A arte quadrinizada acaba de perder um de seus mais destacados integrantes. Álvaro Araújo Lourenço do Rio, desenhista cearense, de 40 anos de idade, faleceu na última terça-feira, 31, em sua casa, no bairro Serrinha, em Fortaleza. O corpo foi encontrado pela esposa do artista e a polícia trabalha com a hipótese de suicídio, embora nenhum bilhete ou mensagem tenha sido deixado por ele. Apenas indícios.

Álvaro, que se assinava Al Rio, foi um dos primeiros brasileiros a ganhar destaque internacional, nas principais editoras de quadrinhos norte-americanas, nos anos 90. Fazia parte da equipe de pioneiros, integrada também por Mike Deodato e Marcelo Campos. Dono de um traço ágil e limpo, trabalhou para a DC Comics, Marvel, Image Comics, Dark House e WildStorm, ilustrando personagens como Batman, Superman, Supergirl, X-Men, Novos Mutantes, Homem-Aranha, Hulk, Vampirella, Gen 13 e WildCATS. Era de uma versatilidade extraordinária, cuidando não apenas do traço, como da arte-final e da coloração de suas histórias. Notabilizou-se também por oferecer às heroínas uma sexualidade desusada até então nos “comics” de Tio Sam. Suas versões para Supergirl, Batgirl, Canário Negro e Mulher-Maravilha, entre outras, fizeram enorme sucesso entre os quadrinhólogos e podem ser vistas
nas edições da coletânea The Art of Al Rio, editada pela S.Q.P..

Antes disso, no Rio de Janeiro, Al foi animador dos estúdios Disney no Brasil.

Uma semana antes de sua morte, ele havia participado da primeira edição do Comicon Fortaleza, e no momento trabalhava na novela gráfica de luxo Fever Moon, para o selo Del Rey Books da editora Random House, com lançamento previsto para julho. Além da ilustração, assinava também o roteiro, juntamente com a escritora Karen Marie Moning. Grande fã de ficção científica, preparava, ainda, um livro cheio de aliens, naves espaciais e mundos perdidos no universo, e mais dois – um sobre como desenhar garotas e outro intitulado A Arte Sexy de Al Rio.

Segundo seu agente por muitos anos, David Campiti, Rio trabalhava duro em  seus projetos e por isso a notícia de sua morte foi um choque para todos. “Era uma pessoa generosa e humilde, que vai fazer muita falta” – destacou.

A verdade é que o artista sofria de depressão há algum tempo. E pensamentos suicidas faziam parte da sua rotina, apesar do sucesso com os pincéis. Porém, jamais reconheceu que precisava de ajuda, como lamenta outro amigo, Terry, que também foi seu agente de arte.

– A gente sabia que ele tinha problemas, mas pensávamos que estava lidando bem com eles – registrou Terry em seu site, reproduzindo parte da última entrevista dada por Al:

“O que me faz continuar? É fácil: sou apaixonado por desenho. Ele me corre nas veias. Meu DNA é formado de desenho, lápis, tintas e pincéis. O desenho é a coisa mais importante da minha vida. É o meu poder de super-herói. Esta é a minha missão aqui na Terra”.

Dito isso, Al Rio deve ter entendido que havia cumprido a sua missão aqui. E se retirou, deixando a esposa Zilda e três filhos: Renê, Adrielle e Isabel. Foi sepultado no Cemitério São João Batista, em Fortaleza, CE.

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