18:31Jornal da guerra contra os taedos

de Manoel Carlos Karam

Ele usava inclusive gravata-borboleta. Tinha a aparência de ser um sujeito assim, desses que inclusive usam gravata-borboleta. Antes da gravata-borboleta, poderia chamar a atenção o fato de carregar duas
maletas, segurando desconfortavelmente ambas com a mão esquerda para deixar a direita livre para cumprimentos. Esta mão direita servia também para buscar o lenço no bolso externo do paletó e enxugar o suor da testa, porque pensar causa transpiração, teria dito ele segundo alguns cronistas. O tal sujeito chamava-se Blauston Ferks, ele procurou o nosso estado-maior para oferecer algumas idéias que melhorariam a guerra contra os taedos. Ferks preferia ser chamado pelo prenome porque, segundo ele, era mais fornido que o sobrenome, portanto vou fazer a vontade dele. Blauston trabalhou com o nosso exército durante muito tempo, deu idéias admiráveis, pelo menos uma delas obra-prima. A nossa população começava a ter simpatias pelos taedos, o que não era de estranhar, pois estávamos transformando os taedos em coitadinhos. Diante do sentimento de coitadinhos, Blauston deu a idéia: publicar as notícias da guerra no caderno de esportes para manter o interesse pelo ódio aos taedos. Um
gênio, um gênio de gravata-borboleta.

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