18:45HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Gêmeos

O sol atravessou a bola de cristal e começou a queimar a caixa onde ela pousou há anos. Fumaça no ar. Ele olhou mas ficou imóvel. Um som saía dali. Ele foi atrás. Era o trem. Caipira. Ele já trilhara aquelas pegadas. Dos dedos. Violeiro. Violão. André Geraissati. Cada acorde uma paisagem. Minas? Azul a capa do disco escondido. Como a do Milton. Olhos esbugalhados. Para dentro. A fumacinha ali ao lado. Uma janela para a alma. Na casa no pé da montanha. Uma mesa com toalha branca. Bolo de fubá. Leite. Uma xícara. Galinhas no terreiro. Galo cantou de madrugada. E ele tocando o trem. Nos dedos compridos. O sol na cara. O sol furando o cristal. Gosto de torresmo. Ele ali no meio da bagunça de um escritório. Cidade grande. O telefone toca. Uma propaganda encerra a viagem. Duas marcas na caixa queimada. O trem acabou? Não. Continuou. Villa-Lobos. Sempre. Uivo.

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