por Zé da Silva
Capricórnio
Os batedores surgiram não se sabe de onde. Talvez de um sonho. Mas tudo era real. Aquele cortejo era real. A serpente de asfalto brilhava sob o sol e o verde das plantações dos dois lados eram como o mar distante duzentos quilômetros. Assim como as motos, vieram por cima as nuvens negras, raras naquele pedaço do mapa. E choveu. Os pingos eram de água benta e as fardas dos motociclistas ficaram empapadas. Anônimos, escondidos nos capacetes, eles mantiveram a rota, garbosos como em filmes, quando abrem a cena para a chegada de presidentes. O sol voltou rápido. Tudo secou rápido. O trajeto terminou numa estrada de terra. Os batedores se postaram para o cortejo entrar a esquerda. Um carro parou. Vinha no sentido contrário. Alguém colocou a cabeça para fora da janela a fim de observar. Deve ter visto a pequena cidade ao fundo, de onde veio o cortejo. Ela e a serra que a protege. Lá em cima, um Cristo enorme, de cabeça desproporcional. O cortejo sumiu na estradinha que leva ao cemitério. O carro foi liberado. Os batedores anônimos também foram. Mas sem as sirenes. Em silêncio. Reverência a um corpo que naquele momento era enterrado. Um vento forte e frio cortou a paisagem. Um pássaro negro p0usou na cerca de arame farpado. Uma vaca olhou rapidamente. Alguém fez o sinal da cruz.
cenário de um western de motoqueiros. corvos negros, enterros, cortejo, cidadezinha ao fundo… pode ser sertão, ou interior sei lá, mas o sentimento que passa é de um western com nova roupagem, com metáfora diferentes talvez. de quem era o enterro?