12:24Para meu amigo Washington

Washington, no grande time do
Atlético Paranaense de 1982/83

O meu amigo está no quarto 216 do hospital Nossa Senhora das Graças. Saiu recentemente da UTI e esta temporada já se arrasta há quase três meses. Outro dia uma imagem dele, vista na tela de tv, entrou pela retina da alma e ficará para sempre, mesmo que a camisa que estava envergando não era a rubro-negra e o palco era o Maracanã, não o da Baixada. A bola veio alta no meio de campo, ele matou no peito e imediatamente chapelou o adversário que entrava feito locomotiva para tirar atropelar tudo. Então, seguiram-se aquelas passadas largas com a redonda dominada, a elegância da espinha ereta, o olhar esquadrinhando todo o ambiente à frente, a própria decisão partindo em direção ao gol, pelo lado direito do campo. E tome mais um drible e os gritos do companheiro de sempre entrando pelo meio, pedindo a bola. Ele não passou, porque a confiança no momento era aquela que só os predestinados sentem. Entrou pelo bico esquerdo da grande área, tirou  mais um zagueiro da jogada e chutou cruzado, rasteiro, seguro. O goleiro se esticou e espalmou. O amigo deve ter xingado, mas a bola sabe o que faz, guiada pelos deuses: ela se encaminhou para a meia-lua onde outro jogador do Fluminense estava lá para desferir tiro foi fatal contra o Flamengo, o grande rival. Gol! Meu amigo Washington está numa cama de hospital mais uma vez. Ele, que conheci assim que desembarcou em Curitiba vindo do Internacional para se transformar, com Assis, que também vinha de Porto Alegre, no “Casal 20” mais famoso do futebol brasileiro. E aqui, no velho estádio Joaquim Américo, onde desfilou junto com a melhor formação atleticana dos últimos 30 anos. Washington César Santos, eterno menino da baiana Valença, que saiu lá de cima como grande revelação e só explodiu mesmo no Atlético Paranaense de 1982, depois de passar pelo Corinthians e Inter, para então se firmar no tricolor carioca, ao ponto de deixar a marca de suas chuteiras na calçada da fama do Maracanã. Pois esse menino não conseguiu driblar armadilhas de fora dos campos. E a doença, que o deixou numa cadeira de rodas. Agora, foi uma pneumonia, e nem todos esses dias no hospital o fizeram perder o sorriso, que passa pela voz, ao telefone, nos enchendo de esperança e nos fazendo recordar todos os presentes que nos deu, com sua arte e sua alegria de viver.

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.