16:05Lelé de Goró

“Lelé de Goró” é brasileiro até o talo. Teve o azar de nascer com uma mente privilegiada, mesmo aparecendo pra lá da Vila dos Confins e ter sido largado num monte de bosta de cavalo pela mãe que nunca conheceu. O pai morreu afogado – em cachaça. Foi criado como bicho no curral em zé ninguém que ficou com pena do piá de olho verde e cabelo bom, como diziam. Quando se deu conta, estava numa vila de subúrbio de cidade grande. Vila é modo de dizer. Era um favelão embaixo de viaduto onde se respirava um misto fuligem, fumaça de escapamento e cheiro de esgoto do rio que passava ali e, de vez em quando, inundava tudo. Estudou, se formou e resolveu fazer a sua revolução. Se mandou para o Nordeste, onde queria ajudar os mais necessitados que moram a duas quadras das avenidas dos bacanas. Acharam que era louco. Foi para o interior. Quiseram interná-lo. Resolveu chutar o balde e levantar o copo. Descobriu que, por aquelas paradas, o maior sucesso era a “Póca Oio”, que chegava não se sabe de onde em galões de plástico azul e custava baratinho. Aquilo incendiava as tripas, mas, depois, o mundo se tornava belo. Um dia ele acordou em Curitiba. Achou que por aqui poderia dar seu recado. Começou a escrever e distribuir sua visagem das coisas. Algumas vieram parar no endereço do beque aqui. Entre outras coisas, “Lelé” confessou que continua tomando uns drinques. Como não achou a “Póca Oio”, vai mesmo de metanol misturado com água de bolinha, como fala. “Estou melhorando de vida”, afirma. Pronto. Está apresentado o destrambelhado e iluminado. Que seja bem vindo.

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