8:27Anjos da morte

A matança de crianças em Curitiba e Região Metropolitana começa bem antes dos disparos dos tiros ou estocadas de armas brancas. Ela começa quando, por uma série de motivos, eles tragam pela primeira vez a fumaça das pedras malditas do crack, epidemia que tomou conta da capital e arredores há muito tempo sem que os poderes públicos olhassem o problema, já que acontece na periferia social, ou seja, longe dos olhos de quem poderia fazer algo com o dinheiro dos impostos. O crack entra no corpo e na alma desses anjos como se fosse o demônio da pior espécie, se é que existe tal categoria. Toma conta do corpo e da mente imediatamente, ao primeiro “tuimmmmmmm”, como descreveu há anos o jornalista Elio Gaspari, em longa reportagem na revista Veja, para descrever o som interno quando a substância entra na corrente sanguínea e chega à mente. Daí para frente a doença da dependência faz o resto do estrago. Presos à droga e aos pequenos traficantes que trocaram o comércio da maconha pelo das pedras, por causa do giro rápido do dinheiro, os meninos, depois da fase da venda dos pertences próprios e da casa, começam a roubar e também a vender o produto para os “patrões” em troca do pagamento feito com as próprias pedras. Isso quando já não estão debilitados demais e se transformam em lixo humano sem condição de nada. A entrada para o tráfico normalmente é a assinatura da sentença de morte. Porque, num momento ou outro, o fissura pela droga fala mais alto e eles consomem o produto a ser vendido. Aí entra a lei do cão, a lei do comércio. São mortos para servirem de exemplos a outros que estão na mesma situação. Muitas vezes os traficantes utilizam outros meninos como anjos da morte. O pagamento é feito em pedras de crack. Iniciativas como a descrita abaixo são louváveis, podem salvar algumas vidas, mas a profilaxia para se impedir a carnificina precisa de muito mais. Passa pela condição social, entra pela prevenção a partir da educação, vai para a saúde, com locais apropriados para atendimento e tratamento terapêutico e, claro, na atuação policial que começa na entrada da droga é ataque e prisão dos traficantes, que em sua maioria não são drogados, porque sabem o risco que correm os “noiados”.

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