18:51HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Peixes

Nunca tinha entrado num hotel de luxo. Nunca tinha subido numa prancha de surf. Fez tudo de uma vez, assim como o batismo de fumaça. Estava no balneário de rico, levado por um amigo. Fumaram no caminho e a noite ficou estranha. Entrou naqueles corredores em curva que lhe lembraram o filme de Kubrick e ele era o menino no velocípede. Depois saíram para a praia. A prancha estava ali, assim como a lua, a areia, o mar e o barulho das ondas. Subiu, deitou e começou a dar braçadas como quem desejasse chegar rapidamente ao litoral da África. Parou quando os músculos dos braços doeram e o fôlego faltou. Foi aí que veio o pânico. As luzes do continente estavam longes. Ele não tinha noção do quando deslizara na lâmina de água. Pensou que, talvez, tudo fosse uma ilusão causada pela fumaça. Mas nem isso sabia, porque tinha sido a primeira vez. Não rezou ou pediu ajuda porque não era do seu feitio. Nem gritou por socorro por ser tímido. O mar estava calmo. Olhou para a água. Negra. Pensou em bichos de filmes japoneses. Aquilo resultou na decisão de pular na água e acionar os pés como propulsores do retorno. Chegou rápido no lugar que dava pé. Achou então que o pânico era fruto da erva. Maldita! Devolveu a prancha. Encerrava-se, assim, a carreira de um surfista.

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