Uma caveira, um coração secreto,
Os caminhos de sangue que não vejo,
Os túneis de um sonho, esse Proteu,
As vísceras, a nuca, o esqueleto.
Tudo isso sou eu. Incrivelmente
Sou também a memória de uma espada
E a de um solitário sol poente
Que se dispersa em ouro, em sombra, em nada.
Sou o que vê as proas lá do porto;
Sou os contados livros, as contadas
Gravuras pelo tempo fatigadas;
Sou o que inveja aquele que está morto.
Mais raro é ser o homem que entrelaça
Palavras num dos quartos de uma casa.
de Jorge Luis Borges