12:15O ESPELHO

Quando menino, eu temia que o espelho
Me mostrasse outro rosto ou uma ceba
Máscara impessoal que ocultaria
Algo na certa atroz. Temi também
Que o silencioso tempo do espelho
Se desviasse do curso cotidiano
Dos horários do homem e hospedasse
Em seu vago extremo imaginário
Seres e formas e matizes novos.
(Não disse isso a ninguém, menino tímido.)
Agora temo que o espelho encerre
O verdadeiro rosto de minha alma,
Lastimada de sombras e culpas,
O que Deus vê e talvez vejam os homens.

de Jorge Luis Borges

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