5:00Bibinho fez tudinho

Do jornal Gazeta do Povo, em reportagem de  Karlos Kohlbach, Katia Brembatti, James Alberti e Gabriel Tabatcheik (http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/diariossecretos/):

Justus culpa Bibinho pelas irregularidades da Assembleia
Em entrevista ao telejornal da Rede Massa, presidente do Legislativo procura se eximir da responsabilidade pelas ilegalidades e diz que não renuncia
 
O presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, deputado Nelson Justus (DEM), afirmou ontem que o ex-diretor-geral da Casa, Abib Miguel, o Bibinho, é o grande responsável pelo desvio de dinheiro dos cofres do Legislativo e por todas as irregularidades mostradas na série de reportagens “Diários Secretos”, da Gazeta do Povo e da RPCTV. Justus assegurou ainda que não pretende se afastar do cargo, como vem sendo pressionado a fazer.
Em entrevista ao telejornal da Rede Massa de Televisão e ao jornal Estado do Paraná, Justus procurou se eximir da responsabilidade pelas irregularidades na Assembleia. Afirmou que não sabia das ilicitudes e que não tem dúvida de que os crimes descobertos pelo Ministério Público Estadual (MP) foram cometidos também nas gestões passadas.
Os últimos presidentes da Assembleia, antes de Justus, foram Hermas Brandão (ex-PSDB, hoje presidente do Tribunal de Contas do Estado), Orlando Pessuti (PMDB, hoje governador), Caíto Quintana (PMDB, que continua como deputado) e Aníbal Khury (já falecido).
Nas entrevistas, Justus deu a entender que existiam duas Assembleias Legislativas no Paraná – uma comandada por ele e a outra chefiada por Abib Miguel. Essa última seria, no entendimento de Justus, a responsável pelas ilegalidades. “A Assembleia tem uma administração praticamente terceirizada e ao longo dos anos é a mesma”, disse, citando que Bibinho tinha um poder gigantesco dentro da Assembleia e que, por causa disso, conseguiu empregar funcionários fantasmas para desviar dinheiro público sem que ele tivesse conhecimento.
“Eu não posso dizer que sabia [das irregularidades]. Como é que eu poderia saber de funcionários que estavam contratados, agricultoras fantasmas que recebiam valores altos sem trabalhar? Não sabia de jeito nenhum”, disse Justus. “Compete a ele [Bibinho] administrar a Casa e não ao presidente e nem ao primeiro-secretário [cargo ocupado atualmente pelo peemedebista Alexandre Curi, neto de Aníbal Khury]”. Justus disse que confiava no ex-diretor-geral.
Justus, em nenhum momento durante as entrevistas, se referiu ao fato de que o presidente da Assembleia, juntamente com o primeiro-secretário, são os responsáveis legais por assinar a contratação e demissão dos servidores da Casa.
Ladrão, não
Na entrevista ao telejornal da Rede Massa, Justus foi questionado se era “ladrão”. Prontamente respondeu que “não”. E afirmou que qualquer cidadão pode ter acesso à declaração de bens dos políticos (inclusive a sua), que é entregue ao Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE).
Reportagem da Gazeta do Povo e da RPCTV de 7 de abril mostrou, porém, que a declaração de bens apresentada por Justus na última eleição ao TRE não está completa. O documento omitiu da Justiça Eleitoral que Justus é sócio de uma rádio de Guaratuba, no litoral do Paraná. Outra sócia da emissora é Isabel Stein Miguel, filha de Bibinho – a quem agora o presidente da Assembleia imputa todas as irregularidades e crimes cometidos dentro da Assembleia.
Justus ainda criticou a postura adotada pela Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná (OAB-PR), que iniciou o movimento “O Paraná que queremos”, contra a corrupção na Assembleia. A campanha da OAB já conta com o apoio de mais de 50 entidades e empresas. “A OAB se aproveitou do momento”, disse Justus.
Ao fim da entrevista na televisão, Justus disse que não cogita renunciar à presidência da Assembleia. Afirmou ainda que disputará a eleição deste ano e que vai se reeleger deputado estadual. Apesar disso, ele confidenciou que não pretende ser presidente da Casa novamente.
Ao jornal Estado do Paraná, o presidente da Assembleia ainda reclamou da série de reportagens “Diários Secretos”, da Gazeta do Povo e da RPCTV. Segundo Justus, a cobertura jornalística teria atrapalhado o processo de transparência e modernização que ele vem conduzindo dentro da Assembleia.
Nada a declarar
O presidente da OAB-PR, José Lúcio Glomb, não quis se manifestar sobre a declaração de Nelson Justus. O advogado Alessandro Silvério, que defende Abib Miguel, foi procurado pela reportagem, mas disse que preferia não se manifestar sobre as declarações de Justus.
Bibinho está preso há quase um mês acusado de chefiar uma quadrilha suspeita de desviar da Assembleia pelo menos R$ 26 milhões (valor não corrigido) – montante que pode ultrapassar R$ 100 milhões, segundo estimativa do Ministério Público. O MP apresentou duas denúncias à Justiça contra Bibinho e contra os ex-diretores de administração da Assembleia, José Ary Nassiff, e de pessoal, Cláudio Marques da Silva. Os três são acusados de formação de quadrilha, desvio de dinheiro, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.

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Deputado do PDT pede afastamento da Mesa e denuncia assinatura falsa
Por  Euclides Lucas Garcia
 
O deputado estadual Neivo Beraldin (PDT, foto abaixo) pediu ontem que os três parlamentares que formam a Mesa Executiva da Assembleia Legislativa se licenciem temporariamente dos cargos. A atitude, segundo o pedetista, seria “um ato de humildade” e “uma satisfação ao Paraná”. O pedido de Beraldin foi direcionado ao presidente da Casa, Nelson Justus (DEM); ao 1.º secretário, Alexandre Curi (PMDB); e ao 2.º secretário, Valdir Rossoni (PSDB). Os componentes da Mesa, porém, rechaçaram qualquer possibilidade de deixar os cargos.
Com o posicionamento de Beraldin, já são seis os deputados estaduais que pedem a saída de Justus da presidência da Casa. Além dele, Tadeu Veneri (PT), Ney Leprevost (PP) e os três parlamentares do PPS – Douglas Fabrício, Felipe Lucas e Marcelo Rangel – já se posicionaram pelo afastamento de Justus.
Em discurso na tribuna do plenário, Beraldin defendeu que o afastamento da Mesa se faz necessário para preservar a Assembleia. “Nada acontece na Casa sem que a Mesa autorize. Há um clamor e uma pressão muito grande da sociedade por mudanças”, afirmou. “Não é demérito nenhum se afastar. Sei que é doído, mas essa atitude tem de ser tomada.”
Justus rebateu e, ressaltando as últimas “medidas moralizadoras” tomadas pela Assembleia nos últimos meses, disse a Beraldin que não via “em que mudaria o andamento das investigações com a saída da Mesa”. Para o presidente da Casa, discursos como o do pedetista não contribuem em nada para a melhoria da Assembleia. “O que contribui são ações, atos e atitudes para que possamos passar esta Casa a limpo.”
Depois de responder às declarações de Beraldin, Justus se dirigiu ao pedetista no plenário, disse algumas palavras não registradas pelos microfones e bateu com uma das mãos no bolso do paletó, num gesto que ninguém soube dizer o que significava. “Ele [Justus] veio me pedir desculpas. Mas não vi esse gesto, então não posso comentar”, declarou Beraldin.
Presente no plenário durante alguns momentos da sessão, Alexandre Curi não comentou as declarações de Beraldin. Mas Rossoni rebateu o discurso do colega. Afirmou que, para pedir o afastamento da Mesa, é preciso ter “honradez e idoneidade”. Dizendo que não levaria a sério o pedido de afastamento, o tucano argumentou que nunca assinou nenhum ato da Mesa e que não há nenhuma denúncia contra ele.
Rossoni declarou ainda que não contrata “defunto”, numa referência a Dirceu Pavoni, que faleceu em 12 de junho de 2003, mas só foi exonerado em outubro de 2006 do cargo em comissão que ocupava no gabinete de Beraldin.
O pedetista defendeu-se da indireta do tucano apresentando um documento atestado por uma perita particular, segundo o qual a sua assinatura que permitiu a contratação do morto foi falsificada. “A assinatura não é minha, foi falsificada”, afirmou Beraldin.

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Presidente diz ter apoio do MP para se manter no cargo
Durante a sessão de ontem da Assembleia, o presidente da Casa, Nelson Justus (DEM), disse que o Ministério Público Estadual (MP) apoia sua manutenção no comando do Legislativo. “Posso afiançar que o Ministério Público faz questão que a Mesa fique, como garantia de continuidade das investigações que estamos fazendo”, afirmou. A declaração foi dada em resposta ao pedido do deputado Neivo Beraldin (PDT) de que Justus se afasta (leia mais na reportagem ao lado). Em nota, porém, o MP negou ter feito “qualquer pedido de permanência dos integrantes da atual Mesa Diretora da Assembleia ”. “Até porque, encontram-se todos sob investigação”, diz a nota.
Euclides Lucas Garcia

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