7:35Fernando Pessoa Ferreira, adeus

O Dante Mendonça me passou a notícia ontem à noite, depois que recebeu a informação triste: o escritor e jornalista Fernando Pessoa Ferreira morreu na quarta-feira (12) aos 78 anos de idade. No livro “Curitiba – Melhores Defeitos, Piores Qualidades”, há uma Dante entrevistou este pernambucano nascido no Recife e que por aqui passou nos anos 50 (ler texto do grande Aramis Millarch abaixo) e bagunçou o coreto ao publicar depois, nos anos 60, o texto “Curitiba, a fria”, no “Livro de Cabeceira do Homem”, editado pelo Paulo Francis, crônica mais que ácida que pode ser lida no livro do cartunista. Por estas coincidências da vida, convivi por dois meses com ele, na redação da revista Quatro Rodas, onde o jornalista era redator e eu estagiário. Ali havia outros grandes mestres, como o Michel Laurence – e lembro que o Pessoa gostava mesmo era de ir jogar xadrez na redação da Placar, onde depois entrei e fiquei por mais de um ano até ser contratado e despachado para…. Curitiba. Exatamente a cidade onde o Fernando Pessoa virou persona non grata por escrever que o povo daqui é estranho e  come pinhão – e que o inverno dura de fevereiro a dezembro e que em janeiro chove pra burro. O Francisco Camargo matou a charada ao dizer que o “Fernando Pernambuco” era “gente boa”.  Era, mas sua sinceridade magoou a tribo da capital provinciana. Aqui ele trabalhou no jornal “O Estado do Paraná” e na revista Panorama”, além de ser superintendente do Teatro Guaíra. Pessoa desembarcou no Paraná com carta de recomendação de Gilberto Freyre ao governador Bento Munhoz da Rocha Neto. Aqui viveu uma década, prova de que também era apaixonado pela cidade, ainda mais provinciana nos anos 50. Era apaixonado por futebol e música, além, claro, do ofício de escrever.

Dados sobre Fernando Pessoa Ferreira, publicados em 2005 por ocasião do lançamento do seu primeiro romance:

Fernando Pessoa Ferreira nasceu em Olinda, em 1932. Viveu dez anos em Curitiba e quatro no Rio de Janeiro. Está em São Paulo desde 1968. Desde os 21 é jornalista. No Rio, trabalhou no Diário Carioca, Correio da Manhã e Última Hora, nas revistas Manchete e Cruzeiro. Em São Paulo, trabalhou em revistas do grupo Abril e nos jornais Folha da Tarde e Folha de S. Paulo. Também foi assessor da Reitoria da USP. Como poeta, publicou os livros Os instrumentos do tempo (Editora Livros Portugal, 1958) e Em redor do A (Civilização Brasileira, 1967). Na prosa, publicou os volumes de contos Os fantasmas da gaveta (Editora Codecri, 1983) e O umbigo do anjo (Editora Record, 1998). Os demônios morrem duas vezes é seu primeiro romance.

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Fernando Pessoa, o letrista
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de fevereiro de 1977
Quem conheceu o jornalista Fernando Pessoa Ferreira, que durante 10 anos residiu em Curitiba, polemizando a vida cultural e jornalística da tranqüila cidade dos anos 50, sempre soube que o futebol e a música popular estiveram entre as suas grandes paixões. Agora, Fernando pode juntar as duas paixões, ao fazer a letra de “Vantagem de Perder”, música gravada pelo cantor paulista Adauto Santos, no lado B do compacto simples (edições Marcus Pereira, fevereiro 77), onde Adauto lança “O Torcedor”. São duas músicas de temas futebolísticos. Aliás, a grande paixão do brasileiro – o futebol – ainda tem pequena musicografia, surgida principalmente nos últimos anos.
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Fernando Pessoa Ferreira trabalhou em O ESTADO, logo que chegou do Recife, de onde trazia uma carta de apresentação do sociólogo Gilberto Freyre dirigida ao então governador Bento Munhoz da Rocha Neto. Mais tarde, na revista “Panorama”, era redator de uma picaresca coluna assinada como “Chiquinho Bórgia”, que lhe valeu muitos inimigos. Que aumentaram em 1967, quando já residindo no Rio de Janeiro, publicou no “Livro de Cabeceira do Homem” a mais cáustica análise feita sobre a nossa cidade:
“Curitiba, a Fria”. Como o seu homônimo português, também é poeta de sensibilidade, autor de um elogiado livro “Os Instrumentos do Tempo”. Em 1961, Fernando chegou a superintendência do Guiara, organizando o Teatro de Comédia do Paraná, para a qual trouxe Cláudio Corrêa e Castro e o Curso Permanente de Teatro.

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