11:56O Brasil, visto de fora, aparece bem na foto

por Thea Tavares*

 Nunca antes na história deste país, a imprensa estrangeira deu tanto destaque à política de um estadista brasileiro, como tem feito em reconhecimento ao trabalho do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva no comando da nação. Na semana passada, o Wall Street Journal (WSJ) dedicou de forma inédita um caderno especial com reportagens sobre as notáveis mudanças na condução dos rumos do desenvolvimento por aqui. E justificou: “o país era muito desorganizado para ser levado a sério na arena mundial. Agora, os tempos são outros”. Elogios não foram poupados, diferentemente do que estamos habituados a perceber com o ‘bloqueio’ da grande imprensa tupiniquim, bloqueio esse que tem funcionado como a maior estratégia de ação oposicionista em vigor.
“Para o Brasil, o amanhã finalmente chegou” e “Brasil tem peso para virar potência mundial” são algumas das chamadas do caderno do WSJ. Claro que não faltaram puxões de orelha também da parte do veículo norteamericano sobre o debate da política internacional, o que se torna compreensível diante do fato de que os Estados Unidos são os principais críticos desse bater de asas que o governo da seleção canarinho vem promovendo. Especialmente no que diz respeito às relações estabelecidas com países como Cuba e o Irã e algumas alfinetadas em suposto silêncio institucional diante de ataques aos direitos humanos, ao que o governo federal responde alegando possuir uma declarada política de não-intervenção em assuntos domésticos, que afetem a soberania dos países e a autonomia dos povos em escolher seus governantes.
As reportagens começam abordando o fato de que o Brasil driblou a crise econômica com medidas decisivas para fazer com que a travessia pelo período turbulento acarretasse em perdas na economia de apenas 0,2% e já tem projeção de crescimento da ordem de 6% ao ano. Os bancos compreenderam o chamado do governo e abriram fontes de crédito. Com isso, registrou-se recorde de empréstimos e a demanda interna deu um salto, que suavizou o impacto da desaceleração. O WSJ diz que os brasileiros têm estado muito ocupados, comprando máquinas de lavar roupa, carros e TVs de tela plana, em referência clara à política de incentivos fiscais para diversos setores.
Hoje, o país ostenta o título de maior economia latinoamericana e a décima mundial. Há projeções da Goldman Sachs que dão conta de que, se não houver grandes surpresas e o timão continuar firme apontando na direção de um rumo dado como praticamente certo, em 2050, o Brasil pode alcançar a 4ª posição nesse ranking das grandes economias, deixando para trás países como a Alemanha, o Japão e o Reino Unido. Esse pacote nacional de solidez e ambição é apontado como fundamento econômico que serve de passaporte para um país vir a se tornar uma grande potência.
Os benefícios sociais, entre essas medidas, não passaram batido do olhar da imprensa internacional. A política de transferência de renda, que tirou milhares de famílias brasileiras da miséria absoluta, traçou um plano diferente na história da aplicação de fórmulas de incremento econômico. Contrariando a noção de que o ‘bolo’ tinha primeiro de crescer para depois ser dividido – e ele nunca crescia o suficiente para desespero e sacrifício das camadas mais empobrecidas -, a aposta feita aqui foi a da redistribuição, marca do governo do Presidente Lula, e, com isso, a economia foi se sustentando à medida em que mais pessoas empoderaram-se de mecanismos para aquisição de bens e serviços. O WSJ destaca que um quarto da população é beneficiária do Bolsa Família, o principal programa social do país, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). A região Nordeste ganha uma ênfase também por demonstrar ter vencido um atraso tradicional que lhe era imposto pela desatenção dos governos anteriores. O jornal estrangeiro lembra que as empresas de lá estão lutando para treinar trabalhadores para a construção de carros, eletrodomésticos e peças de computadores e isso evidencia o boom da formação tecnológica e da capacitação da mão-de-obra necessárias para expandir.
No cenário político, o caderno do WSJ diz que há um consenso instalado para evitar erros do passado. “Pela primeira vez, a estabilidade é quase garantida”, ressalta o advogado de investimentos da Shearman & Sterling LLP em São Paulo, Andrew Béla Jánszki, que também lembra que “mesmo a promessa de um papel maior do Estado na economia, trazida por Dilma Roussef, escolhida pessoalmente por Lula como candidata do partido, não assusta a comunidade empresarial”. Ainda há um longo caminho a ser percorrido e as reportagens seguintes se desdobram também pela análise crítica da realidade em vários setores. Mas apontam: depois do estímulo à economia, é chegada a hora de reforçar investimentos. E para não deixar o barco balançar, o jornal diz que a esmagadora maioria da população brasileira quer “mais do mesmo”, ou seja, “o medo, agora, é da mudança”.

Thea Tavares é jornalista

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