19:33Para um amigo

Foto de Carlos Kaspchak

Soube agora, menino, que você chegou lá perto. Lá perto de onde toda a nossa imensa turma de dependentes chega. O peso que a gente não sabe de onde vem, nos leva a esse limiar perigoso. O de não ter a chance de poder olhar as coisas com a naturalidade que existe em tudo que é de Deus. Te digo, e você, sei, vai me escutar aí: um dia algo me puxou de volta para a luz sem eu saber direito. Não, hoje eu sei que sabia, que sempre esteve aqui dentro e foi atropelado pelos medos, pela insegurança, pela loucura do mundo, pela loucura dos outros, pela minha loucura, pelo não saber, por não acreditar, pela perdição sem explicação. Foi por palavra que sobrevivi. Palavra, essa que, também sem explicação, me sustenta de todas as formas. Só por hoje, amigo, escute com com esse coração bondoso, essa alma que conversou com a dos índios lá nas florestas amazônicas, tão pura que é. Só por hoje, repito, se segure no amor da sua linda mãe que partiu feliz quando te viu bonito como você é. Ela sempre te quiz feliz – e agora te quer vivo para que seja ela neste mundão. Se segure no amor que nós, todos os seus amigos, temos por você. Eu sei disso, mesmo que tenha se protegido bastante e não liberado a passagem para dentro do seu castelo. Eu sei porque sou igual. Só por hoje, amigo. Ah, sim, essa lua aí de cima apareceu ontem para todos nós. Faz tempo que eu consigo enxergá-la. O Carlão registrou e mandou, assim, do nada. Era para você, garanto. Ela agora o espera, com toda a força própria da natureza. Essa que nós temos. Até logo mais.

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.