Do site da RPC, em reportagem de Felippe Aníbal:
A série de reportagens Diários Secretos, realizada pela RPC-TV e pela Gazeta do Povo, provocou a queda do segundo diretor da Assembleia Legislativa do Paraná. Nesta terça-feira (23), o gabinete da presidência da Assembleia confirmou que recebeu o pedido de exoneração do diretor administrativo da casa, José Ary Nassiff. Apresentado na tarde de segunda-feira (22), o afastamento tem caráter irrevogável. A primeira baixa em função das denúncias foi a do diretor-geral da Casa, Abib Miguel, o Bibinho, que pediu afastamento no dia 18 de março.
O advogado da procuradoria da Assembleia, Eron Abbud, ocupará o cargo deixado por Bibinho. O nome será oficialmente anunciado pelo presidente da AL, Nelson Justus (DEM), em discurso ao plenário na tarde desta terça-feira (23). O gabinete da presidência informou que ainda não foi oficialmente definido o substituto para o posto de de Nassiff.
Considerado o braço-direito de Abib Miguel, Nassiff também era sócio do ex-diretor geral da Assembleia. Além disso, a diretoria administrativa, gabinete comandado por Nassiff, foi o segundo departamento que mais fez contratações na casa entre 2006 e 2008. Foram 177 admissões e 28 demissões – um saldo positivo de 149 servidores.
A primeira reportagem da série mostrou que o nome de Vanilda Leal (33), agricultora e moradora da zona rural de Cerro Azul, no Vale do Ribeira, aparece em um diário oficial da Assembleia, como funcionária do gabinete de administração, comandado por Ary Nassiff. De acordo com a publicação, em cinco anos, ela teria recebido R$ 1,2 milhão. Entretanto, Vanilda, que mora em um humilde casebre de madeira e chão batido, afirma que nunca recebeu o dinheiro.
A era Bibinho
Abib Miguel, que há 20 anos ocupava a diretoria geral da Assembleia, articulou uma rede – que envolvia 20 pessoas – para a contratação e manutenção de funcionários que não prestavam serviços à casa. A série de reportagens mostrou que alguns dos funcionários fantasmas chegam a residir em outros estados, como Santa Catarina e Goiás, e que entre os beneficiados estavam parentes a amigos de Bibinho. Em alguns casos, os fantasmas já haviam recebido mais de R$ 1 milhão.
A série de matérias ainda revelou que a Assembleia depositou salários acima do máximo previsto por lei a pelo menos 73 pessoas, num total de R$ 59,6 milhões, de janeiro de 2004 a abril de 2009. Parte dessas pessoas também é ligada, de alguma forma, ao diretor-geral afastado.
Transparência
A série Diários Secretos se baseou em 724 diários oficiais a que a equipe de repórteres teve acesso. Os cadernos foram publicados entre 1998 e 2009. Todo o material foi digitado em uma planilha e parte já está disponível pela internet, no site “Por dentro dos diários secretos” que compreende um grande sistema de busca que possibilitará ao leitor verificar os dados dos diários analisados. (Leia o tutorial para tirar dúvidas sobre a navegação).
Foram mais de 15 mil linhas copiadas, distribuídas em mais de 20 colunas de informação, além de cinco revisões. Entre os dados registrados destacam-se o nome do servidor, local de trabalho, cargo exercido e se era um posto comissionado ou concursado.
Na segunda-feira, no início da sessão plenária, o presidente da Assembleia, Nelson Justus, anunciou que os diários estarão disponíveis no site da Assembleia (www.alep.pr.gov.br), em 60 dias. Mas o anúncio frustrou quem esperava mais transparência. Segundo Justus, apenas os documentos futuros estarão on-line e não os diários editados até agora – justamente aqueles em que aparecem as irregularidades cometidas dentro da Casa.