3:59O horror de todo dia

Texto produzido a partir de depoimento enviado:

A notícia e as fotos das meninas trucidadas e jogadas como lixo num matagal do Pilarzinho, provocaram o choque, o choro, a revolta, o desabafo (ver link no fim do texto): “Olha onde chegamos! São sete, oito homicídios por dia nessa cidade!”. Em meio a tristeza, uma lembrança: entre 2000 e 2004 o mesmo jornal que mostrou a barbárie começou a fazer “contagem” de homicídios por mês, por causa do aumento da criminalidade, da banalização da violência na esteira do crescimento do consumo de crack. No primeiro ano, a Grande Curitiba tinha chegado a uma média de 46 assassinatos por mês, segundo cruzamento de dados do IML e Secretaria da Segurança.  O que chocava, na época, era o fato de a média ter subido de 30 para 45 em poucos meses. Pouco antes.Pouco antes, acontecia menos de um assassinato por dia. Pulou para 1,5. O alerta então soou: se não se tomarem providências, tanto na Segurança quanto na área social, de atendimento a famílias e viciados, a coisa a violência iria crescer assustadoramente, com aumento de homicídios. Isso há apenas seis anos. Hoje são seis, sete por dia.

Não se matavam crianças nem mulheres com a frequência de agora. Assassinato de menor de 16 anos, ou de mulher, era raro. Hoje, todo dia tem um caso de criança de 13, 14, 15 anos assassinada, ou mulher morta. Todo dia – ao lado de outros cinco ou seis do chamado “perfil de vítima de homicídio” – os tais “casos comuns” que a polícia encara como rotina – homem, com idade entre 17 e 35, morador da periferia, quase sempre ligado a consumo de drogas.

Chacina, quando se mata mais de três? Era raro. Virava manchete do ano, do semestre nos jornais. Os carrapichos (repórteres policiais) ficavam em cima, acompanhando, até a polícia resolver. Agora… os assassinos entram numa casa e matam três, quatro, cinco pessoas, praticamente todo mês, a cada 15 dias. Dois dias depois todo mundo esqueceu. A imprensa, a mídia, a polícia, o cidadão comum.

Hoje não há como os repórteres acompanharem tudo, tal a quantidade de crimes. Não há tempo, nem tem gente suficiente, nem espaço nas páginas do jornal, para ir atrás dos casos não resolvidos. Sem contar que escarafunchar sobre chacinas e homicídios é cair no vazio. Delegados e investigadores não têm nada a dizer, simplesmente porque não há investigação.

Tudo isso tem vários nomes e explicação. Tudo isso foi previsto há 4, 5 anos ressaltado com a escalada do crime e o estrago feito pelo crack: 

– Ausência total do poder público.

– Banalização da violência na sociedade (nada choca mais as pessoas)

– Falta de polícia na rua. E quando se chama a PM, ela não vem e, se vem, leva horas e não resolve nada.

– Ausência total de segurança.

– Impunidade. Bandidos e traficantes sabem que podem barbarizar, assaltar, violentar e matar a qualquer hora, em qualquer lugar, qualquer vítima. Eles nem mais se importam em cometer crime escondido, despistar, planejar, nada. É ir, empunhar a arma e fazer, seja o que for. E sair andando. Nem precisa correr. E nem precisa arma – pedrada, cacetada, facada, como no caso das meninas mortas e jogadas no matagal.

– Descaso com a vida dos cidadãos.

– Falta de planejamento. Falta de sintonia entre poder municipal e estadual.

http://www.parana-online.com.br/editoria/policia/news/431869/?noticia=AMIGAS%20SAO%20MORTAS%20EM%20MATAGAL%20NO%20PILARZINHO

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