por Zé da Silva
Escorpião
Foi por causa daquela reportagem. O pessoal do IML deixou por muito tempo um caranguejo preso no ralo onde os corpos eram lavados. O bicho se alimentava de restos de corpos que escorriam com água. Depois de um bom tempo bem alimentado, comeram-no. Primeiro ele teve nojo. Depois, vontade. De comer caranguejo, não nacos de corpos humanos. Passou a se alimentar aos domingos. Depois, três vezes por semana. Depois, todos os dias. Encontrou um fornecedor que lhe trazia do litoral. De qualquer parte daqui ou de fora. Inventou até uma máquina para tirar a carne sem quebrar a armadura. Comia duzias por dia. Passou mal. Foi internado. Intoxicação. Morreu. Depois da autópsia lavaram o corpo. Havia um caranguejo no ralo esperando.