23:26Encontro com Afonsinho

A barba e os cabelos brancos fazem a figura na beira da praia do Arpoador ser confundido com outro artista: Roberto Menescal, o da Bossa Nova. Mas os olhos enormes e azuis são inconfundíveis, assim com o jeito de boleiro. Ele afaga um menino de cabelos encaracolados que é herdeiro da segunda geração. O neto sai para um mergulho e ele diz que não é o Menescal, é o Afonsinho, outro grande artista, só que dos palcos da bola e fora dela. O primeiro a peitar a escória da cartolagem e plantar, lá nos anos sessenta, a sementinha do passe livre. Comeu o pão que o diabo amassou, mas o que jogava o fez desfilar pelo menos por dois grandes times da época: o Botafogo e o Santos, este de Pelé. Afonsinho conta que se aposentou da outra profissão, a de médico, mas é voluntário no Hospital Pinel e ainda não sabe o que vai fazer. Conhece e é conhecido de todo mundo. Lembrou de Aladim, com quem jogou numa seleção carioca quando o atual vereador em Curitiba despontou no Bangu. Olha com muita desconfiança a relação com empresários e cartolas da bola, ainda mais agora que rios de dinheiro passam de mão em mão por qualquer cabeça de bagre. Ele é de outro tempo. O tempo futuro, quem sabe, e o tempo passado, com certeza, porque jogava muito. O sol caiu ao lado do morro Dois Irmãos do outro lado da curva da praia e o craque sai com a tranquilidade que sempre norteou sua falas e posiciocionamentos. Coisa rara até hoje no Brasil e, por isso mesmo, rendeu uma homenagem em música, pelo caráter, e em filme (Passe Livre) pelo que representou e representa à legião de artistas da bola sempre explorados, mesmo ganhando zilhões.

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