7:54Ao Maérlio Ceará

A notícia abaixo é daquelas que deixam quem ama a cultura brasileira sem saber o que dizer e aí vem aquela avalanche de lembranças que marcam uma vida no departamento de coisas boas da vida. Meu chapa Maérlio Ceará fez mais pela história cultural desta cidade do que a a multidão de metidos a intelectuais, promotores de eventos, diplomados com títulos de cidadãos honorários, acadêmicos e etecéteras que andam empinados por aí sem saber com quantos paus se faz uma canoa. Nunca deixou de ser um militante da chamada esquerda – e é dos poucos que devem ser respeitados, porque não se perdeu na trajetória da vida. Conheco-o desde os tempos do boteco que tinha ao bem perto da reitoria da Universidade Federal do Paraná. Depois vi nascer o Calamengau, o forró, no outro bar, ali perto do campo do Coritiba e aí juntou o lé com o cré porque a nossa origem é a mesma, lá de cima, e eu cresci ouvindo todos os baiões e encantado sempre com a oito baixos de Pedro Sertanejo, pai de Oswaldinho do Acordeon. Sim, Ceará é o responsável por plantar a semente no forró nesta terra de alemães, polacos, ucranianos, italianos, muito antes de o tal “forró universitário” virar moda. E quando ele foi para o “Vasquinho”, a Sociedade Vasco da Gama, ali na Roberto Barroso, transformou o espaço num verdadeiro espaço cultural, e ali, cantou e encantou o povo levando para o palco não só os mestres Dominguinhos, Hermeto Pascoal, Oswaldinho, Siba e o Mestre Ambrósio, mas gente como Tom Zé e esta Elza Soares que, para este humilde admirador da MPB, fez ali um dos mais fantásticos shows de toda uma vida de espetáculos ao vivo, mesmo porque, graças ao Maérlio, pude conversar com ela antes de entrar no palco e vi a transformação de um “ser comum”, humilde, tímido, numa estrela fulgurante ao entrar no palco minutos depois. Ceará tem todo o direito de se transformar no dono de um restaurante de comidas brasileiras, tem todo o direito de descansar depois de um quarto de século de batalha. É um vitorioso, que teve o auxilio de sua companheira Fátima em todas as horas – e a ela também cabem as homenagens. Mas nós temos também todo o direito de lamentar, de chorar o fim desta história muito bonita, construída com dedicação, movida a tesão por nossa música e que, graças a Deus se espalhou entre os jovens. Que os novos donos mantenham esta bendita chama. Ao Ceará, fica aqui o agradecimento e que Deus o abençoe.

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