12:36Para Manoel Carlos Karam

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Manoel Carlos Karam partiu em 2007

Meu caro, prometi escrever um bilhetinho para você, que aprontou a última e foi embora há dois anos, exatos dois anos, como gostamos nós, jornalistas pobres de texto, de escrever. Prometi para ela, sua amada Katia Kertzman, que está morrendo de saudades, assim como o Flucke, aquele seu grande amigo da raça poodle. E claro, todos que te conheceram aqui nessa passagem na Terra, porque está na cara, nessa sua cara olhando pra gente aí em cima, sentadinho no banco da Curitiba que você, catarina, adotou, que fazias parte de um time especial. Estamos falando aqui de ser humano, por enquanto. Porque eu nunca entendi que água você bebeu para ter a paciência que nunca tive e nunca terei, que espécie de sangue corria por suas veias e irrigava seu privilegiado cérebro que o fazia olhar as coisas como elas são, normais. Para mim você sempre foi um anormal, no melhor sentido da palavra, porque comparado a esta raça humana abestalhada no mau sentido. Aí também tinha aquela usina de humor ininterrupta, repentista que misturava nonsense e veneno, ou separava, quando ouvia uma palavra, uma frase, via o vento balançando a roseira, sei lá. E um dia vi o que fazia no encadeamento das palavrinhas. Aí me rendi e o escalei, aqui mesmo, num time que tinha Nilton Santos, Didi, Garrincha e Pelé. Você achou demais, porque é assim mesmo. A humildade chegou aí e ficou humilde, só para a gente aprender a não ser besta. E ainda tinha o rock, o futebol, apesar de você ser Coxa – mas de sua parte, eu admitia não ser rival, até porque, mais do que tudo, você sempre soube que a bola é redonda e sempre reverenciou quem tinha o dom e a arte de saber como tratá-la. Pois é, Manoel Carlos Karam, eu só lamento não ter ficado mais tempo vendo você jogar em todas, mas fui pegando os sinais, como o de beber em Borges e bicar nos seus textos, devagar, com paciência, para reverenciar e matar a saudade de alguém que não foi.

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