16:51Ponta de iceberg na Ponta do Félix

Aconteceu hoje cedo na Assembleia Legislativa a audiência em que se tentou esclarecer a nebulosa venda de 43,4% das ações da Previ do terminal portuário da Ponta do Félix, em Antonina, para a empresa Equiplan. O convocado foi o ex-presidente da Fundação Copel, Edílson Bertoldo, que foi “demitido” pelo governador Roberto Requião durante a Escola de Governo na semana passada, por motivos ainda ignorados, e saiu logo em seguida por vontade própria, já que o governador do Paraná não tem poderes para tanto. Na Comissão de Fiscalização o resumo da ópera foi o seguinte:

– Bertoldo confirmou que houve, sim, interferência da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (APPA) nas negociações das ações da Previ no Terminal da Ponta do Felix (TPPF) e isso fez a Fundação Copel perder o prazo para exercer seu direito de preferência na compra das ações. A Copel tem 20,4% delas.

– Eduardo Requião, irmão do governador, era presidente da APPA quando, no dia 08 de fevereiro de 2008, proibiu que o terminal fosse utilizado para embarque de cargas em geral, ao mesmo tempo que o Instituto Ambiental do Paraná cancelou a licença ambiental.  “O relato de Bertoldo reforçou a suspeita de que foi um negócio nebuloso e que envolveu interesses específicos da própria APPA ou de pessoas ligadas a ela”, disse o lider da oposição, deputado Élio Rusch (DEM).

– Segundo Bertoldo, a Fundação Copel não exerceu a preferência na compra das ações da Previ porque não foram oficiados desta determinação do governador. Disse também que em uma reunião entre a diretoria da Copel e a superintendência da APPA, no dia 27 de outubro de 2009, ficou acertado de que a APPA faria a proposta para a compra das ações. “A Fundação Copel sustou as reuniões para discutir esse assunto, já que havia sido dada uma solução pelo Governo. A APPA enviou um ofício à Previ e no dia três de novembro se reuniram no Rio de Janeiro para tratar da compra”, revela Bertoldo.  “O Governo agora está à procura de um culpado quando percebe-se que foi a ingerência da APPA que atrapalhou o negócio. Foram as ações do próprio governo que inviabilizaram as negociações”, concluiu Rusch.

– A Fundação Copel recebeu uma notificação da Previ para se manifestar sobre o seu direito de preferência na compra das ações ou também para vender as ações da Fundação Copel, se houvesse interesse, detalhou Bertoldo. Mas no dia 27 de outubro deste ano ocorreu uma reunião na sede da Copel, no bairro Batel em Curitiba, entre a diretoria da empresa e a Superintendência da APPA. Nesta reunião ficou decidido que a APPA iria fazer uma proposta para a compra das ações. Desta reunião gerou um ofício da APPA para a Previ, enviado no dia 28 de outubro, e foi agendada uma reunião para o dia três de novembro na sede da Previ, no Rio de Janeiro. “O que eu sei é que no final desta reunião a Previ não reconheceu a APPA como compradora e nós (Fundação Copel) não tínhamos mais prazo para exercer o direito de compra. Sem dúvida o atravessamento da APPA tirou a Fundação Copel do jogo”, alegou Bertoldo.

– Bertoldo afirmou que o prejuízo do Terminal em 2008 e 2009 foi de R$ 12 milhões. Disse que hoje  média de navios é de um por mês e antesera cinco. Outro problema apontado por ele é a falta de dragagem do canal de acesso ao porto de Antonina. “De maneira intempestiva, o Terminal ficou impossibilitado de fazer o embarque dos produtos, tendo que deslocar as mercadorias para outros portos, além de despesas com armadores e multas pela demora no embarque. Foram aproximadamente R$ 5 milhões de prejuízo que atribuo ao órgão regulador, que é a APPA”, declarou.

– Documentos entregues por Bertoldo revelaram correspondências trocadas entre o então superintendente da APPA, Eduardo Requião, e a diretoria da Equiplan, empresa que comprou as ações da Previ. “Pelos termos das correspondências, a superintendência da APPA fazia gosto pela venda de maneira rápida para a Equiplan. Não admitia mais postergações”, afirmou o deputado Reni Pereira (PSB). “Uma outra correspondência da Equiplan agradecia o empenho do mesmo Eduardo, já como secretário de Representação do Paraná, em Brasília”, completou o deputado. Ele disse não  entender a atitude da APPA na negociação de 2008, que atrapalhou a venda das ações da Previ para um grupo canadense que investiria mais de R$ 200 milhões na cidade de Antonina e pagaria cerca de R$ 80 milhões pelas ações da Previ. “Fica difícil compreender o porquê de ter sido barrada uma venda desse porte para vender um ano depois por apenas R$ 64 milhões”, relatou Pereira. “Parabéns ao paranismo”.

– Edílson Bertoldo rebateu a acusação de que estaria fazendo lobby para favorecer determinado grupo paranaense. Ele disse que agiu pensando nos benefícios dos associados da Fundação, pois, segundo ele considerava o negócio mais lucrativo para os fundos de pensão do que aquele que estaria sendo realizado pela Previ. “Se fazer lobby é agir pensando em benefícios para a Fundação Copel, eu fiz”, declarou Bertoldo.

– Ao final da audiência os deputados aprovaram a convocação do presidente da Copel, Rubens Ghilardi, do presidente do conselho deliberativo da Fundação Copel, Marlus Gaio, e também do superintendente da APPA, Daniel Lúcio de Oliveira. Segundo o presidente da Comissão de Fiscalização, deputado Artagão Júnior (PMDB), Eduardo Requião, superintendente da APPA na época, será oficiado para prestar esclarecimentos sobre a reunião ocorrida no Rio de Janeiro com a direção da Previ –  e se for necessário comparecerá na comissão.

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