A velha senhora, viúva, tem três filhos.
O primeiro, tipo malandro, nunca trabalhou sequer um dia. Dependente da mesada, atormenta a mãe sempre por mais um dinheirinho – a fantasiosa viagem para o banho de iluminação nas águas barrentas do Rio Ganges.
O segundo, o melhor dos filhos até os quarenta, cai de amores por uma fulana qualquer. Esse, que era o provedor da casa e passeava com a mãe no fim de semana, se despede uma noite. E, zerando a conta bancária da velha, no carro da família, lá se foi com a loira fatal. Nunca mais deu notícia.
A filha, molestada em menina por um vizinho, sai de blusa branca e risonha, às oito da manhã, para a faculdade. Acena, mocinha em flor, para a mãe na janela. Foia última ocasião que a viu.
Por vezes, a cada longos dois ou três anos, o telefone toca. A senhora atende.
– Alô?
No outro lado apenas o silêncio e a respiração abafada.
– Alô? Quem fala? É a…?
Sem resposta.
Só um clique.
E agora? Dali a quantos anos a próxima vez?
– Que filha desgracida!
Olha pela janela.
– Ai, mocinha mais ingrata.
Olha pela janela ao longe.
– Minha pobre menina…
E olha pela janela uma blusinha branca ao longe.
de Dalton Trevisan em Violetas e Pavões