15:09Claude Lévi-Strauss, adeus

Da agência Efe:

Morre aos 100 anos o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss
O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, um dos intelectuais mais importantes do século 20, famoso antropólogo e pai do enfoque estruturalista das ciências sociais, morreu no sábado passado aos 100 anos, informou hoje a editora Plon.

Lévi-Strauss influenciou de maneira decisiva a filosofia, a sociologia, a história e a teoria da literatura.

O intelectual nasceu em Bruxelas em 28 de novembro de 1908, de pais judeus e franceses. Estudou direito e filosofia na Universidade de Sorbonne, na França.

Lévi-Strauss iniciou seu grande projeto intelectual em 1934, quando é convidado pela recém-fundada USP (Universidade de São Paulo) para lecionar sociologia.

O antropólogo viveu durante três anos no Brasil, e fez várias excursões para o Centro-Oeste e o Norte do Brasil e, em contato com índios cadiuéus, bororos e nambiquaras, começa a esboçar as bases do estruturalismo, corrente que revolucionaria a antropologia em meados do século 20.

As várias missões etnológicas e as experiências em Mato Grosso e na Amazônia foram contadas em seu terceiro livro “Tristes Trópicos” (1955), também considerado uma espécie de autobiografia intelectual. As obras fundamentais foram lançadas bem depois de sua curta temporada no Brasil.

De volta a Paris pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, foi convocado para combater em 1939, mas deu baixa por causa da origem judia.

Em 1941, se refugiou nos Estados Unidos, dando aulas em Nova York, onde conheceu o lingüista Roman Jakobson, que teve uma grande influência sobre seu pensamento.

Lévi-Straus notabilizou-se também por sua atenção entre as relações entre a cozinha e a cultura. Na obra “Mitológicas” (1964-71), ele ilustra a oposição entre a natureza e a cultura, utilizando as noções de alimentos crus e cozidos, frescos e podres, molhados e queimados, por exemplo. Com isso, seria possível alcançar generalizações sobre o pensamento humano.

Para a maior parte do meio acadêmico brasileiro, a influência de Lévi-Strauss se deu bem depois de sua partida da USP. O etnólogo alcançou notoriedade entre os antropólogos brasileiros entre os anos 50 e 80, principalmente.

Nos últimos anos, Lévi-Strauss vive recolhido no apartamento que viveu nos últimos 50 anos em Paris e recebia poucos amigos.

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Saiba quais são as obras de Lévi-Strauss publicadas no Brasil

O etnólogo e antropólogo Claude Lévi-Strauss, que morreu aos 100 anos, teve a maioria de suas obras publicadas no Brasil. Saiba quais são elas.

As Estruturas Elementares do Parentesco (Vozes, 2003)

Antropologia Estrutural (Vol. 1) (Cosac Naify, 2008)

Antropologia Estrutural (Vol. 2) (Tempo Brasileiro, 1993)

O Pensamento Selvagem (Papirus, 2005)

Sociologia e Antropologia, de Marcel Mauss (introdução de Claude Lévi-Strauss, Cosac Naify, 2003)

O Cru e o Cozido – Mitológicas (Cosac Naify, 2004)

Do Mel às Cinzas – Mitológicas (Cosac Naify, 2005)

A Origem dos Modos à Mesa – Mitológicas (Cosac Naify, 2006)

O Homem Nu – Mitológicas (Cosac Naify, 2009)

De Perto e de Longe (Entrevista a Didier Eribon) (entrevista a Didier Eribon)* (Cosac Naify, 2005)

História de Lince (Companhia das Letras, 1993, esgotado)

Saudades do Brasil (Companhia das Letras, 1994, esgotado)

Saudades de São Paulo (Companhia das Letras, 1996, esgotado)

Tristes Trópicos (Companhia das Letras, 1996)

Olhar, Escutar, Ler (Companhia das Letras, 1997, esgotado)

Minhas Palavras (Brasiliense, 1991, esgotado)

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Veja a cronologia do antropólogo Claude Lévi-Strauss que morreu sábado

Claude Lévi-Strauss foi o criador da antropologia estrutural. Ao longo de sua trajetória acadêmica, lecionou em várias universidades, alternando a atividade com suas expedições e a produção literária. Conheça sua cronologia.

28.nov.1908 – Claude Lévi-Strauss nasce em Bruxelas, na Bélgica. É filho de pais franceses: Raymond Lévi-Strauss e Emma Lévy. Em 1909, a família, de origem judaica, muda-se para Paris

– 1927 – Inscreve-se em direito e faz curso de filosofia na Sorbonne

– 1932 – Casa-se com Dina Dreyfus

– 1933 – É nomeado para o liceu de Laon

– 1935 – Em fevereiro, embarca para o Brasil. Desembarca em Santos e passa a viver em São Paulo. Reside na rua Cincinato Braga, 395, entre a rua Carlos Sampaio e a avenida Brigadeiro Luís Antônio. Assume a cadeira de sociologia na Universidade de São Paulo. Tem como colegas de trabalho o geógrafo Pierre Monbeig (1908-1987), o historiador Fernand Braudel (1902-1985) e o filósofo Jean Maugüé (1904-1985). Junto com a mulher, também etnóloga, faz a primeira viagem a Mato Grosso, onde inicia os estudos sobre os índios cadiuéus, bororos e nambiquaras

– 1938 – Desiste da renovação do contrato na Universidade de São Paulo para consagrar-se a uma longa expedição pelo interior do Brasil

– 1939 – Volta à França e instala, no Museu do Homem, as coleções etnográficas recolhidas nos anos em que esteve no Brasil. Separa-se de Dina

– 1941 – Com o avanço da Segunda Guerra, decide partir para os EUA. Passa a viver em Nova York, onde ensina na New School for Social Research

– 1945 – Casa-se com Rose-Marie Ullmo. Deste casamento nasce Laurent. Após a guerra, torna-se conselheiro cultural da Embaixada francesa nos EUA

– 1947 – Retorna à França

– 1948 – Defende na Sorbonne a tese “As Estruturas Elementares do Parentesco” , que é publicada em 1949

– 1950 – Com o apoio da Unesco, viaja à Índia e ao Paquistão Oriental (atual Bangladesh). Assume a função de diretor de estudos na Escola Prática de Altos Estudos, na seção de ciências religiosas

– 1954 – Após o segundo divórcio, casa-se com Monique Roman

– 1955 – Publica “Tristes Trópicos” , autobiografia intelectual, narrativa de viagem ao Brasil e ensaio científico sobre os indígenas cadiuéus, bororos, nambiquaras e tupi-cavaíbas. A obra torna-se um clássico da etnologia e dos estudos sobre o país

– 1957 – Nascimento do filho Matthieu

– 1958 – Publica o volume 1 de “Antropologia Estrutural”, dedicado à memória do francês Émile Durkheim (1858-1917), um dos fundadores das ciências sociais

– 1959 – É eleito para a cadeira de antropologia social no Collège de France, fundado em 1530 e uma das mais prestigiosas instituições de ensino da França

– 1960 – Funda, no Collège de France, o Laboratório de Antropologia Social

– 1961 – Cria, com colaboradores, a “L’Homme – Revue Française d’Anthropologie” (O Homem – Revista Francesa de Antropologia)
– 1962 – Publica “O Totemismo Hoje” e “O Pensamento Selvagem” –este último dedicado à memória do filósofo francês Maurice Merleau-Ponty (1908-61)

– 1964-71 – Lévi-Strauss publica os quatro volumes das “Mitológicas”

1968 – Na França, é condecorado com a Medalha de Ouro do Centro Nacional de Pesquisas Sociais

– 1973 – Eleito para a Academia Francesa. Publica “Antropologia Estrutural 2”, obra dedicada aos membros do Laboratório de Antropologia Social

– 1974 – Numa quinta-feira, 27 de junho, toma posse na Academia Francesa

– 1982 – Aposenta-se do Collège de France

– 1985 – Volta ao Brasil após 46 anos

– 1989 – O Museu do Homem organiza a exposição “As Américas de Claude Lévi-Strauss”

– 1994 – Publica “Saudades do Brasil” , que reúne fotografias do interior do país que fez entre 1935 e 1938

– 1996 – Publica “Saudades de São Paulo”, com fotografias de São Paulo feitas entre 1935 e 1937. “Se, no título de um livro recente, apliquei ao Brasil (e a São Paulo) o termo ‘saudade’, não foi por lamento de não mais estar lá. De nada me serviria lamentar o que após tantos anos não reencontraria. Eu evocava antes aquele aperto no coração que sentimos quando, ao relembrar ou rever certos lugares, somos penetrados pela evidência de que não há nada no mundo de permanente nem de estável em que possamos nos apoiar” (“Saudades de São Paulo”, tradução de Paulo Neves, Cia. das Letras, 1996)

– 28.nov.2008 – Claude Lévi-Strauss completa cem anos. “É assim que me identifico, viajante, arqueólogo do espaço, procurando em vão reconstituir o exotismo com o auxílio de fragmentos e de destroços” (“Tristes Trópicos”, trad. Rosa Freire d’Aguiar, Cia. das Letras)

-31.out.2009- Morre em Paris

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