14:58No feriado, assalto e polícia na rua

História curitibana contada por um colaborador do Blog: 

Manhã de sol, feriado, ruas praticamente vazias, céu de brigadeiro para viajar e dou de cara com uma cena inusitada no centro de Curitiba. Bem ali, na esquina da rua Cândido Lopes com a alameda Dr. Muricy. Eu acabara de chegar ao ponto de embarque do microônibus Executivo Aeroporto, que fica em frente ao Hotel Bourbon, quando avistei uma viatura da PM e comentei de forma jocosa com outras pessoas que aguardavam a mesma condução: “- Nossa, a polícia! Vou fazer uma foto, senão ninguém vai acreditar quando eu contar que vi”.  Como se fosse possível ouvir meu comentário irônico, naquele exato momento a viatura, que descia pela Muricy, parou bruscamente e dela desceram dois policiais militares. Um deles, levava o revólver em punho, apontado para o chão.
Só de passar na rua, eles perceberam que duas mulheres estavam sendo abordadas por um meliante com um pedaço de vidro: “- Passa a grana ou vai se dar mal”, era a ameaça do garoto para elas. Não dava pra ouvir com exatidão as palavras trocadas, mas o fato é que as mulheres saíram correndo dali e passaram por nós no ponto do ônibus, dando detalhes do ocorrido. Perguntei-lhes: “- Era um assalto?”. Elas responderam óbvia e afirmativamente. Estavam pálidas e assustadas, pois completaram a história ainda ofegantes: “- Ele queria dinheiro. Dissemos que só tínhamos dois reais para o café e ele ameaçou com um fundo de garrafa”. Até então, o termo só me remetia à piada sem graça a respeito dos óculos de lentes grossas. Depois desse episódio, ele perdeu toda e qualquer possibilidade de motivar o riso.
As mulheres se foram… A tocar suas vidas. Curiosamente, o rapaz também seguiu, para o lado contrário, com o mesmo propósito. Já que, ao que parece, a repressão das autoridades foi meramente verbal. Difícil saber quem tinha mais medo de quem. Se o rapaz, diante da iminência de ser encarcerado – o que duvido -, ou se os policiais com receio das interpretações públicas e projeções sobre a consequência de seus atos em serviço. Ali no ponto, conversamos mais um pouco sobre a cena e uma carioca, possivelmente com o olhar mais treinado que o dos curitibanos, ainda incrédulo e assustado diante da violência urbana, lembrou que, um pouco antes, ela estranhara o fato de o rapaz estar parado ali na Biblioteca Pública e ficou desconfiada de que a intenção dele era a de abordá-la. Foi outra que escapou!
E eu mordi a língua. Desconheço o procedimento padrão para situações como esta e por isso fiquei intrigado com a liberação do garoto pelos PMs. Mas não posso negar que mais forte foi a sensação de alívio em perceber que a simples ronda – se é que tivésse sido algo do tipo – ou a passagem deles por ali foi capaz de evitar o pior naquele instante e de tirar as duas mulheres daquele apuro. Os policiais estavam no lugar certo e na hora precisa. Um GPS não calcularia tão bem. Eles foram verdadeiros anjos da guarda. E os elogios param por aqui, porque a moral dessa história nos convida a um questionamento e, ao mesmo tempo, a um puxão de orelha nas autoridades: se é isso que os policiais nas ruas fazem, se evitam crimes, se essa “sensação de proteção” diminui a paranóia geral – o secretário Delazari deu a entender recentemente na Assembleia Legislativa que as pessoas estão atribuindo à política de segurança pública (ineficiente) a culpa alimentada por uma “sensação de insegurança” que apavora a todos e supervaloriza os problemas existentes nessa área  -, porque é tão raro encontrá-los nas ruas, para que prontamente possam cumprir com suas funções e, com isso, usufruir do merecido reconhecimento da sociedade pelos serviços que prestam?
Quem tiver uma boa resposta, por favor, me conte!

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