8:33Fidelidade não respeitada

por Waldyr Pugliesi*

       No último dia 3 de outubro terminou o prazo para novas filiações, mudanças de legendas e de domicílio eleitoral para aqueles que pretendem se candidatar nas eleições de outubro de 2010, quando estarão em disputa os cargos de presidente da República, governadores, senadores, deputados federais, estaduais e distritais. Agora, o que se viu nos dias que antecederam esta data é digno de repúdio. Muitos políticos simplesmente ignoraram a cláusula da fidelidade partidária para entrar de cabeça no troca-troca de partidos, como numa feira livre.

       Só na esfera federal, aproximadamente 30 deputados e senadores deixaram os partidos pelos quais se elegeram, na expectativa de garantir eleição fácil em outras legendas. Já disse uma vez e vou repetir, não existe eleição fácil. Estas pessoas que trocaram de partido são os vendedores do “bilhete premiado” da política. Vão para partidos com legendas teoricamente menores e passam a cooptar lideranças políticas e sociais, numa ação clara para garantir legenda para eles próprios.       De acordo com o Tribunal Regional Eleitoral, até o final de julho do ano
passado, 135 vereadores paranaenses tiveram seus mandatos cassados por
infidelidade partidária. Um dado que chama a atenção é que, até o
final de 2007, haviam chegado à Justiça Eleitoral, 1.080 pedidos de perda
de mandato por este motivo. Estes números colocam nosso Estado bem à
frente do Piauí, com 952 e São Paulo, que registrou 868 ações de perda
de cargo eletivo.

       Aqui no Paraná ainda não tem um levantamento definitivo deste ano, de
quantos deputados, vereadores, prefeitos e vices deram as costas para as
bandeiras pelas quais se elegeram. Mas uma coisa é certa, todos os
partidos saíram perdendo, mesmo aqueles que supostamente tenham recebido
mais filiações. Quem troca de partido hoje fará o mesmo amanhã.

       Comecei minha militância no movimento estudantil e na metade da década
de 1960 ajudei a fundar o então MDB, depois PMDB. Hoje estou em meu nono
mandato, todos conquistados com o voto da população e pelo mesmo partido,
o qual presido pela quarta vez.

       Na presidência do PMDB tenho defendido a fidelidade partidária por
acreditar ser este o caminho para o fortalecimento das instituições
políticas e da democracia. Como as eleições para as casas legislativas
são proporcionais, a fidelidade partidária deve ser extremamente
rigorosa, na defesa do mandato ao partido e não do candidato.

       Quando alguém entra num partido precisa conhecer seu estatuto, seu
programa e as matérias consideradas fundamentais. Na campanha eleitoral, o
candidato carrega as cores e as bandeiras do grupo ao qual pertence e deve
defender estas plataformas.

       Nas últimas semanas alertei que lideranças políticas e sociais de todos
os setores estavam sofrendo assédio para trocarem ou ingressarem neste ou
naquele partido, com a velha promessa de eleição fácil. Na prática, é
o famoso “171 político”, em referência ao artigo do Código Penal que
trata de estelionato. Os argumentos eram de que teriam êxito na eleição
com margem mínima de seis, sete mil votos.

       Só que as coisas não são bem assim. Para eleger um deputado, o
quociente (voto de legenda) é de mais de 100 mil votos. Quem se deixou
iludir pelo canto da sereia não será eleito. Eles foram cooptados para
garantir votos ao “vendedor do bilhete”.

       Além do mais, aqueles que deixaram seus partidos, traindo-os, se tornaram
membros da Brigada Joaquim Silvério dos Reis, aquele que entregou
Tiradentes para os colonialistas o enforcarem. Joaquim Silvério dos Reis
entrou para a história como o patrono dos traidores.

(*) Waldyr Pugliesi é deputado estadual, líder do PMDB na Assembleia
Legislativa e presidente do Diretório Estadual do PMDB
(www.waldyrpugliesi.com.br – e-mail [email protected])

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