7:06Leminski exposto em Sampa

Da Folha de São Paulo, em reportagem de José Alberto Bombig:

Rebeldia exposta
Poeta paranaense Paulo Leminski, morto em 1989, ganha extensa mostra em SP que reúne originais, textos inéditos, shows, documentários e peça

Transcorridos 20 anos da morte de Paulo Leminski, São Paulo abrigará, a partir de 1º de outubro, a maior e mais completa mostra sobre a obra do poeta paranaense que uniu caprichos e relaxos em nome da rebeldia aos sistemas.
A “Ocupação Leminski”, no Instituto Itaú Cultural, na avenida Paulista, ironicamente espécie de medula vertebral do capitalismo brasileiro, tentará dar conta das múltiplas faces da produção do “bandido que sabia latim” (título de sua biografia), morto em junho de 1989, aos 44 anos.
Será a primeira vez que uma mostra apresentará ao público parte do acervo em poder das herdeiras de Leminski, a poeta Alice Ruiz, sua viúva, e as filhas Áurea e Estrela. O material, acomodado em 18 caixas, deverá compor num futuro ainda incerto um memorial em Curitiba (PR), onde o poeta nasceu e morou quase toda a vida.
A curadoria da exposição é do poeta paulista e amigo de Leminski Ademir Assunção, 48. “O mais emocionante foi ter acesso aos cadernos do Leminski com os originais de poemas e do romance “Catatau”. Esse material já ficou com fundações e com uma universidade. Agora, a família que fazer um memorial, inclusive virtual, com as peças”, conta ele.
Ao dissecar o acervo, Assunção conta ter se deparado com um aspecto pouco conhecido do poeta, mestiço de pai polaco e mãe negra, definido como um dos melhores autores pop do país ao unir humor, zen-budismo, erudição e rigor formal.
“Havia uma coisa trágica, principalmente na fase final da vida dele, poemas falando de morte. Uma tragédia pessoal, mas também de uma época. O sonho tinha acabado de fato com o raiar dos 90. Leminski era poeta em tempo integral, rebelde, e não se adaptara ao sistema, ao “yuppismo”.”
Assunção conviveu com Leminski na fase final da vida do poeta, durante os meses de 1989 em que ele morou em São Paulo. A morte ocorreu em decorrência de complicações hepáticas provocadas pelo álcool.

Inéditos
Segundo o curador, três dos cadernos -espirais e brochuras escolares- rabiscados por Leminski estarão na exposição, que tentará abarcar ainda sua atuação como letrista e músico de MPB, romancista, praticante de judô e ensaísta.
“Nossa ideia foi criar instalações poéticas, ambientes diferentes para determinadas vertentes da produção do Leminski. Queremos chamar a atenção para o processo criativo dele”, diz Claudinei Ferreira, jornalista e diretor da área de literatura do Itaú Cultural.
A mostra terá também poemas inéditos e ensaios e críticas nunca publicados em livro. Um deles, rabiscado em maço de cigarro (veja foto nesta página), de certa forma resume sua obra, que conciliou a erudição do professor que falava várias línguas, entre elas o latim, e o frescor da poesia marginal.
O cantor e compositor Moraes Moreira, parceiro mais assíduo de Leminski em canções, já confirmou presença em um dos shows musicais da programação, que contará ainda com a exibição de dois videodocumentários e uma peça infanto-juvenil, adaptação do livro “Guerra Dentro da Gente”.
O lado trágico destacado por Assunção, no entanto, não terá um espaço reservado na exposição. “Não quisemos fazer uma mostra biográfica. É uma mostra sobre a produção dele. O que há de trágico estará nos poemas”, diz Ferreira.

 
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OCUPAÇÃO LEMINSKI
Quando: abertura para o público em 1º/10; de ter. a sex., 10h às 21h; sáb., dom. e feriado, 10h às 19h; até 8/11
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149; tel. 0/xx/11/2168-1777 )
Quanto: entrada franca

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