18:15HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Gêmeos

Mundo doido, pensou. Estava feliz, sossegado, empregado, filhos criados, era amado, amava, a saúde estava em ordem para a idade, precisava apenas cuidar do pãozinho e do chocolate a mais, estava na profissão que descobriu, enfim, vida normal, que seguia depois de muitos barrancos e soterramentos. Não lembrava mais da última vez em que sucumbira nas trevas ou se projetara no foguete da euforia. A vida seguia agora numa carroça maneira, pelo caminho que abrira-se depois do vendaval, mas ele tinha dúvida. Seria isso a tal felicidade? Pepinos apareciam diariamente, mas ele olhava-os como quem vê um pássaro mergulhar no mar revolto e demorar um pouco lá dentro. Não era suicídio. E lá estava o bicho de volta com a comida no bico ganhando o espaço no vôo de satisfação. Resolvia o que dava para resolver. Se não desse, lembrava uma música e cantava, de preferência dos anos 50 ou 60, é a encrenca terminava na última palavra da letra da canção. Não se sentia feliz. Faltava o que? Um dia descobriu que sempre vai faltar, porque é assim mesmo é ninguém sabe o que é completo, porque não existe. Mas, mesmo assim, não tirou aquilo da cabeça, porque é parte.

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