Trecho da entrevista do escritor Fabricio Carpinejar ao blog “Prosa Online” do site de “O Globo” oglobo.globo.com/blogs/prosa/post.asp:
Todo homem guarda em si um cafajeste. Para ser canalha, depende de muita experiência e observação. Exige estudo e algumas dores de cotovelo. Quem não sofreu uma fossa nunca construiu uma ponte. O canalha não se vangloria, não é um Don Juan que conta quantas mulheres ganhou. Ele perdeu as mulheres e soube reconquistá-las. O Don Juan nunca perde, o Canalha tira da reconciliação a sua maior conquista. Desde o primeiro momento, o canalha avisa que não vale nada. Sua franqueza seduz. Não existe horário eleitoral para o canalha. Não há falsas promessas. O cafajeste mente para um dia ser desmascarado. O canalha tem uma coragem de amar, um aqui e agora, que nenhuma mulher resiste. Acreditar na salvação do canalha e da safada é justamente a salvação deles. Uma mulher pensa que ele foi canalha com as outras, e não será com ela. Assim como uma mulher se arruma para outra mulher, não para seu homem. A disputa secreta feminina deixa o canalha à vontade para atacar. A safada é um canalha menos paranóico. Coitado do canalha que encontra uma pelo caminho, terá ataques de ciúme. Sem a existência dos dois, não haveria esperança, nem motéis. O canalha desestrutura o senso comum. Derruba a vocação casamenteira dos amantes, que na verdade querem ser promovidos a esposa ou marido. Costuma dizer que é um disparate o amante desejar beijo em público, andar de mãos dadas na rua ou dormir de conchinha. Isso é casamento. Deveriam curtir o jogo proibido e clandestino da paixão. E também entende que o casamento pode ser altamente explosivo. Os casais não precisam esperar os filhos dormir e a casa aquietar para transar. Porque vão acabar dormindo de tão cansados e atravessando um jejum vitoriano de sexo. Que usem os intervalos dos serviços e os horários quebrados para acentuar a adrenalina da relação. Um canalha pode ser casado durante anos sem monotonia. Não deixará de ser amante com sua esposa.
esse cara não passa de um chato que tá na moda.