Do filósofo do Centro Cínico:
Recolhimento de carteiras? Coisa de gênio. Só um espírito iluminado poderia pensar nisso! Novamente o Brasil, agradecido, irá se ajoelhar diante de nosso Paraná por mais este exemplo de inventividade! Mas, êpa, ôpa, me ocorreu uma coisa. Vamos raciocinar juntos: os policiais encarregados da “Operação Recolta” chegarão na casa do “descarteirado”, porque, é claro, em 100% dos casos o endereço que consta nos registros do Detran é o residencial, correto? Aí, quem estiver no local, tipo a patroa, o filho, a secretária doméstica, a progenitora do infeliz, o pedreiro encarregado da reforma, informará:
– “O fulano está no trabalho”.
Então nossos bravos milicianos, agora travestidos de oficiais de justiça, sairão por esse mundão de Deus em busca do renitente motorista. Isso, é claro, se na casa do mesmo tiver sido dada a indispensável informação acerca do CEP onde trampa.
Mas vamos ser otimistas e admitir que os policiais saibam onde ir. Dependendo da sorte pode ser do outro lado da cidade ou quiçá no centrão, num daqueles lugares bem tranquilos para transitar e estacionar. Continuemos, pois, acreditando que o mundo é bom e a felicidade até existe. Cortamos então para a cena onde finalmente os “puliças” se defrontam com o cidadão:
– “CNH ao alto!”
E este, de bate-pronto:
– “Não está comigo, perdi”, ou
– “O senhor não vai acreditar, mas dias desses eu estava fazendo um churrasquinho em casa, peguei a carteira para abanar o fogo e não há de ver que deixei ela cair? Pois é, queimou!” ou
– “Fui assaltado, levaram todos meus documentos”, ou
– “Fui para a praia, estava com a carteira no bolso da bermuda, esqueci e entrei no mar. Desmanchou-se”.
O que eles fazem, levam o cara preso?
Deixo de comentar sobre o efetivo policial necessário à viabilização da operação por entender desnecessário. Todos sabem que temos policia demais e bandidos de menos.
É, o Brasil é quase uma Dinamarca. Tem 1 policial para 10 cidadãos e média de 3 homicídio por ano.