18:32Muita milhagem e pouco serviço

por Augusto Nunes na coluna “Direto no Ponto”  da Veja.com

Santa Catarina foi devastada por enchentes tão previsíveis quanto a mudança das estações.  O Nordeste é supliciado por chuvas que desde sempre, não importa a duração da seca, um dia acabam caindo, frequentemente em forma de dilúvio. Os pais da pátria brasileira fazem de conta que não sabem disso. Nunca previnem. Preferem remediar ─ com a demora exasperante que acentua a incompetência.  Isso é mais antigo que a descoberta do Brasil, dirá o presidente Lula. Com uma diferença: a primeira-dama sumiu.

É crueldade comparar Marisa Letícia a Ruth Cardoso. Única primeira-dama da República com profissão definida e idéias próprias, a mulher de Fernando Henrique Cardoso foi uma dessas singularidades que aparecem de vez em quando nos trêfegos trópicos para lembrar, por contraste, o que poderíamos ter sido e não fomos. Confrontada com as demais, Marisa Letícia figura no fim da fila graças ao fiasco no quesito “desempenho em momentos de comoção nacional”.

Qualquer companheira de destino ─  até para justificar as pompas e fitas que ornamentam o emprego oficioso, até para tornar menos incômodo  o tamanho da milhagem aérea ou o brilho das jóias prodigalizadas por emires  perdulários ─ já teria dado o ar da graça na zona conflagrada, ou pelo menos murmurado palavras de conforto. É pouco, mas é sempre alguma coisa para quem não tem nada. Pois nem isso fez a primeira-dama.

A Marisa Letícia retraída, a paulista de origem modesta que não tem nada a dizer porque o marido tudo disse, diz ou dirá, a descendente de imigrantes italianos concentrada nas atividades de esposa, mãe e avó, essa Marisa Letícia é tão verdadeira quanto prestação de contas de deputado. Quem a viu em ação conheceu a mulher voluntariosa, loquaz, opiniática, ciumenta, sempre em guarda com repórteres desinibidas e granfinas insinuantes, capaz de interromper uma audiência no gabinete presidencial ou uma reunião política porque “já é muito tarde, hora de voltar para casa”, capaz também emitir em voz opiniões mais que audaciosas sobre companheiros ou desafetos de Lula ou, sobretudo, da Primeira Família. O voto de silêncio que vigora aos olhos da multidão é suspenso quando lhe convém.

Talvez ache que para cuidar de inundações e gente sem comida é que existem ministros. Nesse caso, deve desocupar o gabinete em que passa o tempo no 4° andar do Palácio do Planalto desde o primeiro mês do primeiro governo. Quando não está viajando com o marido ─ e como gosta de voar de graça nossa campeã de milhagem ─ nunca deixa de aparecer por lá.

 Para quê? Para nada.

Compartilhe

6 ideias sobre “Muita milhagem e pouco serviço

  1. jango

    O artigo é instigante. Realmente, não faz sentido ocupar gabinete e não atuar na praxe de primeira-dama. Será que recebe algum do nosso bolso ? Isso de primeira-dama e vice (aí também suplente de senador) deveria acabar neste país. Não tem justificativa. Não há obrigatoriedade nenhuma da primeira-dama atuar. Se quiser e se for qualificada e competente, como Dona Rute, poderá ajudar. Já fará muito se der conforto e apoio ao presidente, ao governador, ao prefeito, e inclusive, desviá-lo do mau caminho, da corrupção. O vice pode perfeitamente ser substituído pelo Ministro da Justiça ou pelos representantes do Legislativo ou Judiciário. O suplente de senador é uma excrescência, nunca sabemos que é, é uma sombra, não deveria existir.

  2. jeremias bueno

    Sou a favor de que se faça uma substituição.
    Manda o Augusto Nunes pra Ilha do Chapéu e ponha em seu lugar o Mané Galo.
    Melhoraria a qualidade de veja.com, em que pese a Ilha do Chapéu perder massa crítica.

  3. Pé Vermelho

    Cê conhece alguma coisa pública, rua, praça, biblioteca, posto de saúde, escola, com nome de algum vice, de algum suplente?

  4. Ana

    Então o Sr. Jeremias acha que Marisa letícia é melhor que Augusto Nunes!
    Parabéns!!!Vamos fazer uma coisa: as despesas da primeira dama serão todas descontadas somente do seu IR.
    Eu cansei de bancar viagens para uma incompetente incapaz de dar até alento a pessoas em um leito de hospital.

  5. Pé Vermelho

    Maria Letícia me lembra muito bem a mulher de um general ditador de plantão que usava o boeing presidencial pra ir fazer o cabelo em São Paulo, a tiracolo, uma penca de amiguinhas.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.