0:42A transposição de Francisco

Texto especial enviado pelo ombudsman:

Só você para pôr o dedo na ferida com esse desvario pela morte do dono da Gazeta. Toda morte de pai de família é triste – lembremos de nossos pais, que não tinham jornais. E só nós dois para os prantearmos.
 
Chamada de primeira página para o falecimento do doutor Francisco, cadernos inteiros sobre sua pessoa. Admirável até para Roberto Requião, como você reproduziu e deu mais difusão que a Agência Desnotícias. Quem é do ramo sabe que o material estava pronto desde sempre, ninguém ia fazer aquilo da noite para o dia.
 
Mas podiam fazer melhor, fazer como jornalistas. Por exemplo: queimar a capa do jornal com aquela manchete, duvido que o doutor Francisco aceitaria. Nem o Estadão, nem a Folha fizeram igual quando morreram seus patriarcas. Acho que o doutor Francisco se achava jornalista. E como jornalista sabia que jornalista não é notícia no seu jornal.
 
Você falou dos puxa-sacos. Gênio, claro, seu pai foi vizinho de Graciliano. Requião, por exemplo, falando aquilo tudo do doutor Francisco morto depois de falar aquilo tudo de doutor Francisco em estado terminal. Espero que os filhos de Francisco – e o filho de Edmundo, sempre que nem Pilatos no credo – não caiam na falsa sedução de Requião e continuem na oposição.

A Gazeta podia fazer melhor, já que fez com antecedência, grande antecedência, o obituário do doutor Francisco. Por exemplo, lá pelas tantas um velho jornalista fala do ” bigode bem aparado” do doutor Francisco. O que tem o bigode a ver com as calças, “até porque” o bigode foi coisa nova na biografia de doutor Francisco. Nos poupem. A primeira página mostra que contra um bigode bem aparado havia sobrancelhas precisando ser aparadas. Não prejudica nada. Mas não precisava apelar.
 
Requentam a entrevista com o doutor Francisco, do tempo em  que ele estava na ativa. Bobinha, com perdão da autora. Fala do “Lapali” e do “Hospital Paciornick”. Ora, gente, cadê a revisão? Era Lapalu, o dono de origem francesa, o cara que mostrou o poder da bicicleta ao menino Francisco. E Paciornick, com “ck”?  O doutor Francisco ia pôr na rua quem fez isso, grande amigo e admirador que foi do doutor Moisés – que o antecedeu em mês e meio na redação da Gazeta do Povo Celeste. Até as pedras da sinagoga sabem que Paciornik é com “k” – não que faça grande diferença um polaco a mais ou um polaco a menos.
 
Sabe de uma coisa, ZB? O povo “não se prepararam” para a morte do doutor Francisco. Ele, como todo grande homem, era absorvente, exclusivo, total. Taí o resultado. Será que a Gazeta faz a transição, tipo Família Frias? Uma incógnita. Só sei de uma coisa: acabou a era do “doutor diretor de jornal”: doutor Roberto, Marinho e Barroso, doutor Francisco. Perdão, ainda tem o doutor Paulo Pimentel.
 
O Brasil está mudando. Ou não. Morreu o doutor Francisco, acabou uma era. Espero. E espero que amanhã ninguém chegue na Gazeta chamando pelo doutor Guilherme, pelo doutor Mariano, ou pela doutora Ana Amélia.

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8 ideias sobre “A transposição de Francisco

  1. Pé Vermelho

    Só falta esse ombusdman ir lavar a calçada do número 4 da Praça Carlos Gomes…Eita azedume, ou seria inveja num texto do qual só se aproveitam as correções.

  2. Jorge Cara-Preta

    Caro ombudsman! Já que nos investimos, vez ou outra, na qualidade de revisores, como fez você neste interessante texto, uma correção: “O povo não se preparou para a morte do doutor Francisco.” ficaria mais adequado. Saúde!

  3. Zé da silva

    Os donos dos jornais estão morrendo como os jornais no mundo todo , as quedas vertiginosas de tiragem mostram , até a fábrica de bobinas parou por sobras de papel. o dinheiro está curto , a intenet é de graça , jornal mesmo só para quem tem dinheiro sobrando , e quer ler classificados , futebol e polícia , muda a mídia , mudam os costumes , muda o poder dos doutores de barganhar publicidade oficila em troca de apoio aos governos, somem os empregos dos jornalistas nos gabinetes dos políticos , tudo muda , é o admirável mundo novo onde a grande mída será aInternet já acessada por um terço dos mortais no Brasil e dois terços em outros países , jornalismo eletrônico , radiofônico e televisivo . a mídia digital vai revolucionar ainda mais abrindo novos canais , o Doutor se foi e com ele uma época de mando , domínio , inflluência e poder , para o bem ou para o mal.

  4. zebeto

    Xará, posso te pedir um favor? Mudar um pouco esse pseudônimo. Como sou achincalhado aqui de vez em quando, os pentelhos de plantão vão dizer que também estou escrevendo comentários. Isso porque, em tempos idos, assinei uma coluna na Tribuna do Paraná e, depois, no caderno Almanaque de O Estado do Paraná, como Zé da Silva, que não é pseudônimo, mas sim meu nobre sobrenome (Roberto José da Silva). Obrigado pela atenção. Abraço. Saúde.

  5. zebeto

    O erro foi o autor não ter colocado as aspas. Mais nada. De qualquer forma, o comentário de vocês estava corretíssimo. Abraços. Saúde.

  6. jeremias bueno

    Nas ruas, nas fábricas, nas repartições públicas, nos ônibus superlotados, nas escolas, nada mudou.

    A capa da Gazeta e seu primeiro caderno contrastam profundamente com o que foi o dia de ontem (e de hoje) em Curitiba.

    A cidade segue o seu cotidiano, sem comoções populares, consternações exacerbadas ou perplexidades.

    Não faço aqui juizo de valor sobre o falecido, que merece de todos nós o devido respeito, mas constato o exagero e a desproporção da “cobertura jornalística” da GP.

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