4:45Frei risonho e benzimento meia-boca

por JamurJr.


Na década de 70, quando rezar missa na Televisão era moda, os produtores de programas usavam toda a criatividade possível para tornar essas transmissões menos enfadonhas para o grande público. Na TV Iguaçu o problema foi resolvido com grande facilidade pelo diretor de imagens Osni Bermudes. O padre destacado pela paróquia local para oficiar a missa colaborou muito para que o tema fosse tratado com alguns traços de programa de televisão, deixando o tradicional ritual da celebração mais leve. Frei Pio, da Igreja dos Capuchinhos, era um jovem, alegre, risonho e divertido e, em pouco tempo, transformou-se em amigo íntimo do Osni. Os dois criaram o “Show de Missa” que era levado ao ar aos domingos, com muita música popular interpretada por artistas locais. A animada missa da TV Iguaçu passou a ser uma peça importante na programação dominical da emissora. Osni montou um cenário moderno, onde se destacava uma figura do Cristo pintada originalmente por Salvador Dali e reproduzida no estúdio da TV pelo pintor paranaense Wilson de Andrade e Silva. O quadro que se destacava sobre o altar do celebrante chamava atenção pelo inusitado da posição do Cristo na cruz e a beleza da obra do grande pintor .O sucesso do “Show de Missa” levou Frei Pio a condição de Padre “pop star”, com muitos convites para vários tipos de eventos. Ao lado do amigo Osni, o padre freqüentou os mais variados ambientes curitibanos, incluindo o Baile Gay da Sociedade Operária do Alto do São Francisco, onde chegaram a participar de um alegre júri que escolheu o travesti com melhor fantasia. Frei Pio conciliava com grande habilidade suas atividades eclesiásticas com a vida mundana e saudável que levava ao lado do bom amigo e outros companheiros da televisão. Anualmente o padre participava da “Benção dos Automóveis”, uma tradição dos Capuchinhos da Igreja das Mercês. Filas enormes de carros se formavam para receber orações e água benta espargida pelos padres. Numa dessas ocasiões, um dos fiéis era o amigo Osni Bermudes com seu DKW-Vemag adquirido com grande sacrifício e uma dívida de muitas mensalidades. Esperou pacientemente para receber a benção, de preferência do amigo, como de fato ocorreu. No início da noite Osni se reuniu com amigos num jantar de poucas pessoas e muita cerveja num restaurante da rua Prudente de Morais. Ao final do encontro verificou que seu carro havia sido roubado. Entrou em pânico. Imaginou que iria ficar sem carro e com todas as prestações a pagar. Foi à Delegacia de Furtos de Veículos fazer o Boletim de Ocorrência e pedir ajuda a polícia para encontrar seu amado e benzido carro. No dia seguinte o veículo foi encontrado no bairro Portão, sem o rádio e com pequenas avarias. Quando chegou à TV com o veículo, Osni encontrou Frei Pio que o aguardava para tratar do próximo Show de Missa. Foi quando o padre ouviu a crítica à sua eficiência como benzedor de automóveis.   
– Mas, Frei Pio, que diabo de benzimento é esse? Você benze à tarde e meu carro é roubado a noite. Eu acho que você benzeu só contra incêndio.

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3 ideias sobre “Frei risonho e benzimento meia-boca

  1. ogarito linhares

    PARABENS À VOCES DOIS ,UM POR ESCREVER ESTA PEROLA ,E AO OUTRO POR PUBLICA-LA .

  2. Jeremias, o bom

    Pelo que sei, e não sei se tenho razão, o Frei Pio era coxa-branca roxo.

    A pergunta que faço ao Jamur, ou a quem puder responder, é a seguinte: – Era o Frei Pio o tal padre que ia procurar o Zé Roberto nas bocas quando este fujia da concentração, em véspera de jogo importante?

  3. Osni Bermudes Jr

    Salve, salve Zé Beto!

    Muito boa, bem lembrada e escrita esta história que virou lenda, vice-versa.

    O paizão deve estar morrendo de rir lá em cima.

    Realmente o Frei Pio era Coxa até debaixo d’água. Pelo que sei, não era ele que ia atrás do Zé Roberto nas casas noturnas de Curitibana: ele ia fazer é companhia, mesmo. Quem ia atrás era o paizão e o Evangelino.

    Tem mais um causo interessante sobre carros.

    O saudoso e querido pai também foi um dos precursores das unidades-móveis do rádio no PR e até mesmo Brasil, pelo menos em termos de criatividade.

    Quando ainda diretor/contador/sonoplasta/redator e outras cositas mais de uma rádio (tenho de checar no álgum, mas acho que é a Marumbi – cujo slogan era “Marumba Querida”), o Osni Traquitanas Bermudes adaptou um Ford 1929 para ser usado como unidade móvel para cobertura de grandes eventos externos na cidade. E olha que naquela época não havia as unidades volantes da Jovem Pan, Transamérica, coisa & tal.
    O calhambeque tinha a cor da rádio (puxando pro vinho), a logo da Rádio e os dizeres “Imprensa”, já antecipando o Marketing de hoje.
    Certa vez, a unidade móvel foi cobrir a vinda de um presidente da Repúbica a CWB (não lembro quem era, mas posso tbem checar). Depois do evento, o tal presidente retornou ao aeroporto com batedores e tudo, de modo a agilizar o trajeto. Chegando lá, notou que a tal unidade literalmente móvel já estava lá, para cobrir sua despedida. Boquiaberto, ele perguntou ao Osnizão – Vocês da imprensa são chatos, mesmos (…) Mas como é que um calhambeque destes pôde chegar antes da minha comitiva? Ao que o pai respondeu: – É que o motor não é o original dele e sim de uma possante caminhonete. – Aquele presidente olhou para o seu mestre-de-ordens (é isso mesmo?) e sussurrou: Precisamos de um desses carros na nossa frota!

    Taí a inventividade dos paranaenses.

    Caro Zé Betho, grande abraço e saudações…Coxas, é claro!

    Osni Bermudes Jr.
    Amigo e jornalistas

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