8:17Horóscopo

por Osman Gadoso

Virgem

Saiu do carro importado e entrou na casa do Exército da Salvação onde 14 crianças abandonadas pelos pais são cuidadas pelo amor de uma menina de 25 anos, mãe de dois filhos, melhor, 16. Periferia de Curitiba. Outros mundos. Imaginou então a vida como um carro de bate-bate ensandecido. Mas é assim mesmo. Só que não se pode largar os controles. Há anos tinha arrebanhado 10 crianças de um orfanato para a festa de aniversários de um dos filhos. Naquele tempo não havia manche em sua vida, só manchas. Fez uma ultrapassagem de fórmula 1 com o carro velho, raspou um outro, fugiu no veículo lotado. Protegido pelos deuses, mais tarde viu aqueles meninos felizes por alguns instantes. Depois nunca mais foi atrás, mesmo porque só começou a se encontrar anos luz depois. Mas agora ele entrou neste mundo das crianças sem pais com a alma aberta. Levava um uniforme de time para um deles, que conheceu recentemente, e soube da história da mãe ausente, do pai drogado e aidético, dos momentos em que era preso no canil, da mudez durante os quatro primeiros anos de vida, do resgate da vida, do ser humano tranqüilo em que se transformou. E sentiu os outros olhares, dos menores, dos que precisam de mais afago, de mais palavras, da atenção. E daqueles que estão para sair e ninguém sabe para onde, pois não têm ninguém, talvez apenas a rua e suas armadilhas perigosas para ter como parceiras na vida. Revoltar-se seria o caminho fácil, como o sentimento dos que se alimentam disso e não fazem nada. Marcou uma próxima visita. Para falar da sua vida. De abandonado e encontrado. Por ele mesmo. E da salvação possível.

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