17:27Horóscopo

por Osman Gadoso

Áries

Um dia escreveu que o personagem largou tudo, pegou o ônibus, parou no meio da estrada, subiu um morro e se escondeu no mato. Agora ele iria fazer isso. E fez. Era uma coisa que o intrigava desde criança, quando viajava pela Viação Cometa. Seria possível sobreviver no meio do nada? A chuva, o frio e o som de bichos no breu da noite o convenceram. Saudade da pequena ducha de água quente, da cama com lençóis limpinhos, geladeira com uma dúzia de ovos dentro e dois pinguins em cima, tela de plasma para ver os filmes antigos, som para tocar mil cds, poltrona confortável, carro na garagem, telefones funcionando, alguém que diz de vez em quando “eu te amo”, sexo na proporção da idade, saúde razoável, alguns que o acham inteligente. Voltou. Agora reza toda vez que abre a torneira ou aperta a descarga. Encosta a cabeça nas paredes e agradece a proteção. O elevador do prédio é como uma máquina do tempo. Olhar a cidade do terraço da cobertura é seu passatempo na madrugada. Ele só não sabe como vai trazer de volta o personagem que escreveu há alguns anos. Ele se recusa a sair. Da página do jornal. A vida continua sendo inexeplicável.

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